OURO BRANCO - Medo de meningite faz 500 operários pedirem demissão de obra em Minas

Desligamento. Operário João Batista Júnior está em Ouro Branco há um mês e ontem procurou a empresa para pedir demissão do cargo


18-10-2011 10:22
Pelo menos 500 trabalhadores vão deixar a cidade de Ouro Branco, na região Central do Estado, ainda nesta semana, por causa do provável surto de meningite que matou um operário de 19 anos na última sexta-feira. Os funcionários, provenientes de Estados do Nordeste, trabalham para a Paranasa, construtora que presta serviços para a Gerdau Açominas nas obras de ampliação de uma usina. A informação é da unidade regional do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil.

A suspeita é que a doença tenha se espalhado em um alojamento da empreiteira onde 1.200 trabalhadores estão abrigados há seis meses. Outros 18 empregados da Paranasa, conforme a Secretaria Municipal de Saúde, estão internados em hospitais da cidade com sintomas da doença. Desses, apenas um teve o diagnóstico confirmado.

A empresa informou que vai providenciar transporte e alimentação para os funcionários que queiram retornar às cidades de origem no Rio Grande do Norte, Sergipe, Pernambuco, Bahia e Maranhão. Os primeiros nordestinos chegaram ao alojamento da Paranasa em abril deste ano.

Questionado sobre os cuidados que estão sendo tomados com os empregados que estão de partida para o Nordeste, o secretário de Saúde de Ouro Branco, Hideraldo Belini, disse não ter conhecimento sobre as demissões.

Preocupado, o operário João Batista da Costa Júnior, 25, foi um dos que pediram demissão. Ele renunciou ao salário de R$ 918 como armador de ferragens e disse que quer retornar o mais rapidamente possível à cidade de Açu, no Rio Grande do Norte. "Não falta emprego para quem quer trabalhar". Júnior contou que sentiu tonturas e vontade de vomitar anteontem. Ele foi submetido a exames no hospital FOB e a hipótese de meningite foi descartada.

Um outro funcionário, que pediu para não ter o nome divulgado, decidiu continuar no emprego. Também ontem, ele sentia dores pelo corpo e aguardava na fila do hospital para ser examinado. "Minha mãe pede todo dia para eu voltar. Mas o meu plano é ficar. Aqui tenho emprego garantido", disse o ajudante, de 19 anos, que deixou o Rio Grande do Norte há três meses para ganhar R$ 572 por mês.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde declarou que o quadro clínico dos internados "apresentou uma evolução positiva". Segundo Hideraldo Belini, o surto de meningite não está descartado. "Temos que aguardar os resultados dos exames realizados pela Fundação Ezequiel Dias, de Belo Horizonte (Funed) para definirmos se ocorreu um surto ou não", afirmou.

Ainda conforme Belini, os demais moradores da cidade não serão medicados com antibióticos "porque não tiveram contato íntimo, duradouro e permanente com as pessoas que estão tendo seus casos avaliados". Ocupantes do alojamento e pessoas que trabalham no local foram medicados.






Médico recomenda vacinação imediata dos trabalhadores
Para o neurologista e presidente da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil (Abenepi), Christóvão de Castro Xavier, a atitude mais recomendada para evitar a propagação da doença é identificar o tipo de bactéria causadora da meningite e providenciar a vacinação imediata de todos os operários que passaram pelo alojamento antes que eles deixem Minas e sigam para os Estados de origem, no Nordeste do país. Ontem, dos 1.200 trabalhadores que estão no alojamento, pelo menos 500 oficializaram o pedido de demissão. O especialista ainda recomenda que todas as pessoas que passaram pelo alojamento sejam monitoradas por pelo menos três semanas.

Até ontem à noite, no entanto, nem a Secretaria de Estado de Saúde (SES), nem a Secretaria Municipal de Saúde e também a Paranasa, empresa que fez o recrutamento dos trabalhadores para a Gerdau Açominas, haviam confirmado a possibilidade de imunizar os trabalhadores. Segundo a empresa, até sexta-feira, todos os que pediram desligamento do trabalho serão liberados.

O médico clínico infectologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Unaí Tupinambás afirma que não há motivo para pânico entre os moradores de Ouro Branco. "A transmissão é feita pelo contato íntimo. A circulação dessas pessoas pelo comércio dificilmente ofereceu perigo à população". (Fernanda Nazaré Assis/Especial para O TEMPO)
Doença já causou a morte de três neste ano
Nos primeiros nove meses deste ano, foram confirmadas duas mortes por meningite em Ouro Branco – um bebê de 2 meses e uma menina de 7 anos, ambos em agosto. Com o óbito do funcionário da Paranasa, que seria natural de Sergipe, o número subiu para três.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, até agosto havia cinco casos confirmados da doença no município. No ano passado, foram três ocorrências.

Os trabalhadores da construtora podem ter sido infectados pela meningite tipo C. "Temos que aguardar os resultados dos exames para termos a confirmação dessa suspeita", afirmou o secretário Hideraldo Belini. (JT)
Moradores serão orientados
Órgão estadual informou que acompanha a situação na cidade
Cláudia Giúza
Especial para O Tempo
A partir de hoje, a Secretaria Municipal de Saúde pretende mobilizar a população de Ouro Branco sobre o possível surto de meningite. O município está preparando um material explicativo com os sintomas da doença e as providências que estão sendo tomadas para coibir a proliferação.

O material será divulgado em rádios, jornais da cidade e em redes sociais. A medida foi tomada após uma reunião realizada ontem com representantes do município, da Superintendência Regional de Saúde de Barbacena, da construtora Paranasa e da siderúrgica Gerdau Açominas.

Na tarde de ontem, pelo menos 500 trabalhadores pediram para deixar o município após a suspeita de surto de meningite em um alojamento da construtora Paranasa, que presta serviço de expansão para a Gerdau. Durante todo o dia, a reportagem de O TEMPO tentou falar com um responsável pelo setor epidemiológico do Estado, mas o governo só se manifestou à noite, por meio de nota oficial.

Em resposta à demanda da reportagem, o órgão alegou que técnicos estão acompanhando a evolução dos casos e realizando investigações epidemiológicas na região. A secretaria afirmou que antibióticos já foram ministrados nas pessoas que tiveram contato com pacientes com suspeita da doença.

No fim de semana, membros da Superintendência Regional de Saúde estiveram em Ouro Branco para fazer um levantamento do número de pessoas que apresentaram sintomas. O Estado não confirmou se vai realizar vacinação em massa no município.

Anteontem, a Secretaria de Estado de Saúde negou que havia sido notificada pelo município sobre a morte de um homem de 19 anos, ocorrida na última sexta-feira, e sobre a internação de 17 funcionários da construtora Paranasa com sintomas da doença.

A informação foi desmentida pelo secretário de Saúde Hildebrando Belini que afirmou ontem que o Estado estava ciente da situação desde sexta-feira passada. O secretário alegou que "cabe à Secretaria Estadual de Saúde comunicar a situação ao Ministério da Saúde".

A técnica em segurança patrimonial Elizabeth Vieira, 32, se diz assustada. Mãe de duas crianças, de 9 e 12 anos, ela pretende pagar para vacinar os filhos. "Na escola, eles têm contato com muitas pessoas. Tenho medo de eles serem contaminados". Na rede particular, a dose única da vacina custa em média R$ 150.



População reclama da falta de esclarecimentos
Moradores de Ouro Branco, principalmente os que têm filhos pequenos, estão preocupados com o possível surto e reclamam da falta de informações sobre a doença. "Tenho dois netos na escola, de 8 e de 4 anos. Tomara que esse problema se resolva logo", disse a auxiliar de serviços Vânia Aparecida da Silva, 46.

A reportagem de O TEMPO também teve dificuldade para obter esclarecimentos sobre o caso, já que todas as informações estão centralizadas na Secretaria Municipal de Saúde. Qualquer assunto que envolve a empresa Gerdau Açominas, dizem moradores, é tratado com sigilo pelas autoridades.

A equipe ainda tentou ter acesso ao alojamento da Paranasa, mas foi impedida por um funcionário e um segurança da Gerdau. Eles alegaram se tratar de área restrita. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o local está em "perfeito estado de limpeza e higiene". (Joelmir Tavares)
Fonte: O Tempo

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