Testemunha viu policial matar menino Juan no RJ

Rio de Janeiro – O assassinato do menino Juan de Moraes, de 11 anos, durante uma operação da Polícia Militar na Favela do Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na noite de 20 de junho, teria sido testemunhado por uma dona de casa, que afirmou ontem ter visto quando PMs atiraram na criança. Segundo a mulher, os policiais teriam matado primeiro um traficante, em confronto pelas ruelas da comunidade, e, em seguida, atingido o garoto e escondido o corpo atrás de um sofá velho que havia sido deixado por um morador na rua. Meia hora depois, ainda segundo a dona de casa, os PMs retornaram ao local, pegaram o corpo de Juan e “jogaram dentro da viatura”. A testemunha, não identificada, deu entrevista, na noite desse sábado, quando foi feita a reconstituição do crime na Favela do Danon, ao Jornal Nacional, da Rede Globo.


Na versão da mulher, os policiais voltaram ao local no dia seguinte e queimaram o sofá. O traficante que teria sido morto era Igor de Souza Afonso, de 17 anos. O corpo de Juan foi encontrado dia 30, às margens de um rio em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, mas só foi identificado quarta-feira, depois de exames de DNA. Inicialmente, os restos mortais foram apontados como de uma menina. O enterro foi quinta-feira, no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu.

Reconstituição

Nessa sexta, os principais acessos à comunidade Danon foram fechados para a reconstituição, que começou por volta das 12h, sem os quatro policiais militares que afirmaram ter trocado tiros com um traficante na noite em que Juan desapareceu. Wanderson dos Santos de Assis, 19, uma das duas testemunhas feridas naquela noite chegou de cadeira de rodas. O jovem ficou o tempo todo com o rosto coberto, para não ser identificado. De muletas, ele apontou para os investigadores alguns pontos no beco. Um saco plástico parecia marcar uma localização. Depois, a testemunha mostrou aos policiais os ferimentos nas pernas.

Os peritos tentaram simular a movimentação que teria ocorrido na hora do crime. O advogado dos quatro policiais militares envolvidos no caso criticou a reconstituição. Segundo Edson Ferreira, a orientação dada aos clientes foi de que eles só participassem se a simulação ocorresse durante a noite, mesmo período em que Juan foi morto. “Os policiais têm todo direito de não participar, é um direito constitucional. Mas se a reconstituição se der à noite, eles comparecerão e participarão do ato”, informou.

Os PMs alegam que não viram Juan, apenas o irmão dele, um menor de 14 anos, também ferido, convocado para participar da reconstituição, que não compareceu. Ele está no programa de proteção a testemunhas, mas, segundo os parentes, teve receio de ficar frente a frente com os quatro PMs.

O delegado Ricardo Barbosa, responsável pelas investigações, disse que o trabalho poderia durar a noite inteira. “É reconstituir as condições de acordo com os relatos, com o que ocorreu no dia, então, a programação é no período diurno, com tomadas fotográficas, questão do posicionamento, e, no período noturno, nós temos a questão da visibilidade, que vai ser abordada.”

Uma fonte da Polícia Civil disse à reportagem que PMs suspeitos afirmaram inicialmente que Weslley, 14, irmão de Juan, trocou tiros com a polícia, assim como Wanderson dos Santos de Assis e Igor de Souza Afonso, 17. O último morreu no local.

Ainda segundo a fonte, em outro depoimento foi negado que Weslley estivesse armado e tenha entrado em confronto. Todos os policiais negaram ter visto Juan no local. “Vamos analisar se haverá novamente essa contradição. Apenas dois PMs participaram do confronto na subida do morro. Os outros dois não atiraram, mas investigamos a suspeita de ocultação de cadáver por parte dos quatro”, disse a fonte.

Fonte: UAI

0 comentários: