Cigarros com aromas e sabores variados seduzem jovens

Aditivo mascara efeitos negativos, mas o vilão da saúde continua o mesmo, a nicotina; tabagismo atrai adolescentes de até 13 anos

Consumo de cigarros com aromatizantes no país é de 44% entre jovens e adultos de 13 a 35 anos
29-08-2011 09:43
Com sabores e aroma variados de chocolate, menta, cereja, canela, entre outros, os aditivos em cigarros parecem inofensivos, mas não se engane, o vilão continua o mesmo: a nicotina. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o consumo de cigarros aromatizados entre adolescentes de 13 a 15 anos, e adultos e jovens, de 17 a 35 anos, no país, chega a 44%. A pesquisa foi realizada entre 2002 e 2005. “Os aditivos em cigarros” é o foco do “Dia Nacional de Combate ao Fumo” deste ano.

A adolescente J.G.H, de 19 anos, que não quis se identificar, afirma que prefere os cigarros com aditivos “Comecei a fumar no ano passado. Estava em viagem com amigos e eles estavam bebendo e fumando, resolvi experimentar. Hoje, fumo somente em festas e ocasiões especiais. Prefiro cigarros com sabor porque acho o gosto do tradicional desagradável”, justifica a moça.

“A colocação de sabores nos cigarros serve para que os jovens não desistam de experimentar por causa do gosto ruim e do mal-estar das primeiras tragadas”, explica a pneumologista Maria das Graças Rodrigues, presidente da Comissão de Controle de Tabagismo, Alcoolismo e outras Drogas da Associação Médica de Minas Gerais e Coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte.

“Os aditivos liberam maior quantidade de nicotina livre, ou seja, são rapidamente absorvidos pelo organismo e causam maior impacto nos centros nervosos cerebrais”, alerta a médica. Ela acrescenta que, a cada duas pessoas que experimentam o tabaco, uma fica dependente. Estudos mostram que cerca de 90% das pessoas ficam dependentes antes dos 20 anos, e 50% das pessoas que experimentam fazem disso um hábito.

De acordo com o Ministério da Saúde, o tabagismo provoca mais de 50 doenças, sendo responsável por 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema e bronquite crônica), 25% das mortes por doenças coronarianas, 30% das mortes por câncer e 25% das mortes por acidente vascular cerebral (derrame).

O número de fumantes tem diminuído no Brasil, de acordo com pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde. De 2006 a 2009, o percentual de fumantes adultos era de 16, 2%. Em 2010, esse número caiu para 15%. Mesmo com esse avanço, a situação é preocupante. De acordo com estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), um terço da população mundial adulta, aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas são fumantes. De acordo com a OMS, cerca de 6 milhões de pessoas morrem anualmente devido à exposição à fumaça do tabaco. Já no Brasil, o Inca estima que 200 mil pessoas morram por ano em decorrência do cigarro. O tabagismo passivo, por sua vez, mata no mesmo período 600 mil pessoas no mundo, dessas 2.665 somente no Brasil, sendo que mais de 25% das vítimas são crianças.

Para alertar os jovens, a Associação Médica de Minas Gerais (Contad-AMMG), em parceria com as secretarias municipais de Saúde e de Educação, realizam nesta segunda-feira, a partir das 9 horas, uma palestra interativa, seguida de uma apresentação teatral e exibição de filmes para os alunos da Escola Municipal Levindo Coelho, no Bairro Serra.

Difícil, mas possível

O Biomédico Pedro Prates, de 23 anos, trocou o cigarro pelo esporte. “Fumei durante sete anos uma média de dez cigarros por dia. A decisão veio porque pratico futebol e o rendimento estava caindo. Nas primeiras semanas foi difícil, mas consegui. Muita coisa melhorou na minha vida, como a resistência física e o hálito” afirma, com satisfação.

Já o fotógrafo Renato Reis Mota, de 42 anos, se sentia incomodado de não poder fumar em lugares fechados. Esse foi o empurrão que faltava para ele largar o vício. “Fumei durante 26 anos mais de um maço por dia. Parei um período, mas voltei. Em janeiro do ano passado, parei em definitivo por força de vontade. Tudo melhora, respiração e o paladar, principalmente”, conta o fotógrafo. Renato convive com várias pessoas que fumam e, mesmo assim, ele diz que a vontade de fumar passou. “Eu só não posso mais é dar o primeiro trago”, confessa.

O dramaturgo Wesley Machiori, de 36 anos, levou a iniciativa de parar de fumar para a rede social. Está mobilizando inúmeros amigos. “Parei de fumar há 15 dias, com uma média de 40 cigarros por dia. O incentivo veio depois que a sua mãe parou de fumar. “No segundo dia, já senti melhor. Coloquei no facebook, pedindo para as pessoas me ajudarem. É uma reação em cadeia, um para e todo mundo para. Assim como o cigarro contamina, a iniciativa de parar também”, considera Wesley.
Fonte: Hoje em Dia

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