MORTE DE APOSENTADO: Samu acusado de negligência

O corpo foi retirado da casa da família na Rua Boston, no Bairro Bethânia, e encaminhado ao IML
Foto: AKR/JVA online
IPATINGA – Pesa sob médicos e enfermeiros do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a acusação de grave negligência. No final da madrugada desta sexta-feira (26), três profissionais estiveram na residência de número 788 da Rua Boston, no Bairro Bethânia, em Ipatinga, prestando socorro ao aposentado Valdemar Tomaz Lopes, de 64 anos. O homem, que sofreu uma crise convulsiva, foi atendido e os funcionários do Samu julgaram que não seria necessário levá-lo a um hospital. Entretanto, pouco tempo depois de a ambulância deixar a casa, Valdemar morreu.   

Uma das filhas do aposentado, Rosinete do Nascimento Lopes Pereira, 36, estava indignada e procurou o jornal VALE DO AÇO para reclamar da situação. “Chamamos o Samu, que demorou um pouco para vir. Falaram que meu pai estava com a glicose baixa. O médico disse assim: ‘Está tudo bem’. Eu perguntei: ‘Mas não precisa levá-lo para o hospital?’ O médico garantiu: ‘Não, pois, agora, ele está bem. Basta que você o alimente de três em três horas e fique perto dele, pois a glicose vai subir e seu pai vai melhorar’”, contou Rosinete. Ela continuou: “Pediram para dar algo doce para ele e minha tia trouxe um copo de café bem doce. Nós custamos a dar o café com a colher na boca do meu pai, pois ele estava travando e com o olho arregalado. Parecia que não me conhecia. Ele melhorou e eu e fui em casa bem rápido. Quando voltei e olhei para o meu pai, já saí gritando, pois ele já estava morto”. 

A filha de Valdemar estava chocada e chorava sem parar. Emocionada, ela questionou: “Creio que houve falha por parte do Samu. Porque não levaram meu pai para o hospital? Eu acho que houve omissão de socorro. Eles falaram que não precisava levá-lo ao hospital. Porque eles não deram um parecer? Mandaram eu cuidar dele e eu cuidei, mas não adiantou. Falaram comigo que ele não tinha mal nenhum, que estava bem e que o único problema era a glicose que tinha caído e que meu pai não tinha mais nada. Isso é um absurdo”. 

Crise 
Tia da esposa de Valdemar, Maria das Graças Gomes, 53, também estava revoltada com a suposta omissão de socorro do Samu. “O médico falou assim: ‘A glicose dele está zero. Vocês devem dar algo bem doce a Valdemar para que ele possa reagir’. Não o levaram para o hospital e foram embora. Recomendaram que a minha sobrinha (Rosinete) prestasse atenção no pai. Ela perguntou: ‘E isso pode matar?’ O médico falou assim: ‘Isso pode levar à morte sim’. O médico o largou em casa agonizando, pois Valdemar batia os braços e as pernas. Com muita dificuldade nós conseguimos dar um café a ele”, relatou Maria das Graças, acrescentado que o aposentado fazia uso bebidas alcoólicas com freqüência e que havia bebido pela última vez na manhã de quinta-feira (25). “Valdemar sofreu uma crise forte e chegou a quebrar um pedaço do copo quando tentávamos dar o café a ele. O Samu o atendeu pela primeira vez por volta das 5h15 da manhã. De repente ele estava todo frio e desmaiado, completamente gelado. Voltamos a chamar o Samu e, quando eles chegaram, constataram o óbito. Quando atenderam da primeira vez, ele abria a boca e fechava toda hora. Estava sem ar. Tinham que ter levado ele para o hospital. Acho que foi muita negligência do Samu”, afirmou Maria das Graças.

Injeções 
Durante o primeiro atendimento a Valdemar, os médicos e enfermeiros do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência chegaram a aplicar injeções nele. “Deram um remédio para subir a glicose e falaram que nós tínhamos que observá-lo. Nos disseram: ‘Se ele não melhorar, vocês voltem a ligar, que nós o levamos para o hospital’. Tinha que ter levado é na hora. Valdemar não estava bem e praticamente desmaiado. Assim que a ambulância foi embora, ele morreu. Está todo mundo revoltado e queremos justiça”, reivindicou Maria das Graças. 

A esposa e outras três filhas do aposentado moram em Portugal. “Minha sobrinha viu o pai gemendo e entrou no quarto dele. A porta estava aberta e ela o encontrou agonizando no chão. A gente não sabe se ele caiu, se bateu a cabeça ou não. Por isso que eu acho que tinham que ter levado Valdemar para fazer um exame mais detalhado no hospital”, acrescentou Maria das Graças. A Polícia Militar lavrou um boletim de ocorrência (BO) sobre o caso e o corpo do aposentado foi encaminhado para exame de necropsia no Instituto Médico-Legal (IML) de Ipatinga. 


Nota aponta “quadro 
de saúde debilitado e 
com seqüelas de AVC”

O jornal VALE DO AÇO entrou em contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Ipatinga, responsável pela gerência do Samu. Foi questionado como e em que situação os médicos e enfermeiros encontraram Valdemar; que tipo de injeção ele tomou; porque foi orientado que a família desse a ele algo bem doce e se isso era procedimento normal; porque ele não foi levado ao hospital; se não havia mesmo a necessidade de socorrê-lo ao hospital e se o Samu deixou a casa de Valdemar com ele completamente recuperado. Porém, a reportagem recebeu apenas a seguinte nota: “A Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Ipatinga, por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), esclarece que atendeu o paciente por volta de 5h30 desta sexta-feira (26). Durante o atendimento todos os procedimentos necessários foram realizados no local. O paciente apresentava quadro de hipoglicemia e recebeu tratamento. Segundo relatório médico, o paciente apresentava quadro de saúde debilitado e com seqüelas de AVC. A ambulância voltou ao local às 8h, contudo, o paciente já estava em óbito e não tinha condições de ser reanimado”. 

Fonte: JVA online

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