Universitária atacada no banheiro da Fumec relata medo e revolta



05-11-2011 11:34
Trancar a matrícula e deixar a faculdade ou continuar estudante normalmente. Esse é o dilema da estudante de marketing que acusa um aluno de atacá-la no banheiro da Fumec, no Bairro Cruzeiro, Centro-Sul de BH, na noite de quinta-feira. C. de 28 anos, diz que chegou a achar que estaria abandonada à própria sorte dentro do banheiro da universidade e que ali poderia ter sido violentada pelo estudante de administração Leonardo de Castro Álvares Nogueira. Mas, ela diz que, com bastante resistência,  conseguiu se desvencilhar do agressor. Outros estudantes ouviram os gritos e os seguranças a ajudaram, segundo ela. C. diz que o alívio durou pouco tempo, pois o rapaz foi liberado pela Polícia Civil depois de ser preso em flagrante pela Polícia Militar. Mais de 20 militares do 22º Batalhão da PM o escoltaram para evitar o linchamento na faculdade.


A Polícia Civil informou que a delegada de plantão no momento em que vítima e agressor foram ouvidos entendeu que dois fatos pesaram para a liberação do estudante e contribuíram para a ausência de materialidade para lavrar flagrante. “Primeiro, não havia nenhuma testemunha na delegacia. Segundo, a própria vítima não relatou os atos de violência sexual, como toques nas partes íntimas ou a remoção da roupa. Com isso, a delegada acreditou que só as investigações vão apontar o que aconteceu e se realmente houve tentativa de estupro”, afirma delegada da Divisão Especializada de Atendimento da Mulher, do Idoso e do Portador de Deficiência, Elizabeth de Freitas Assis Rocha. Além disso, ela ainda ressalta que os dois depoimentos foram conflitantes.

Segundo ela, o agressor disse que estaria no prédio da Faculdade de Ciências Empresariais (Face II) para visitar um amigo e, como não conhecia o local, acabou entrando no banheiro feminino por engano. “Ele relatou que ficou com medo de a moça gritar ou fazer algum tipo de alarde, por isso tampou a boca”, diz a delegada. Já a vítima informou que o agressor estava escondido no banheiro, provavelmente esperando uma mulher entrar para atacá-la. Ela ainda questionou a versão de Leonardo dizendo que quando foi atacada já estava deixando o banheiro e não tinha visto o rapaz. 



Estudante de administração Leonardo Álvares Nogueira diz que entrou no banheiro por engano, porque não conhecia o local
Nessa sexta-feira, o assunto do dia na Fumec foi a agressão da noite anterior. Vários estudantes que deixavam a faculdade ao término das aulas do turno da manhã comentaram o caso.  As amigas Renata de Miranda, de 23 anos, Priscila Mendes, de 25, e Marina Bhering, de 21, do curso de jornalismo, acreditam que não houve falha da segurança. Segundo elas, como o agressor é aluno da instituição e pode circular normalmente pelo campus, é difícil prever essa situação. “Foi um fato isolado e isso acontece em todas as universidades”, afirma Renata. 


Nas redes sociais a informação da agressão se espalhou rapidamente e o provável perfil de Leonardo no Facebook foi retirado do ar. Uma foto, possivelmente dele, surgiu em uma das postagens, mas também foi retirada momentos depois. Quase 700 pessoas compartilharam o link que trazia a imagem e muitos usuários comentaram. O EM tentou contato por telefone com a família ao longo do dia, mas não conseguiu retorno. Na casa dele, a informação foi que ninguém estava. 

A Fumec informou por meio de uma nota que está se “antecipando às exigências das autoridades” e seu departamento jurídico encaminhou à Polícia Civil “todas as imagens capturadas pelo sistema de segurança de vídeo no corredor onde se localiza o banheiro em que ocorreu o fato”.  A instituição disse ainda que “todo o câmpus é monitorado pelo sistema de segurança de vídeo, além de contar com seguranças, equipados com rádios de comunicação, presentes em todas as dependências da universidade. Ainda não há uma decisão sobre uma possível expulsão do aluno. A Comissão de Ética e Disciplina da faculdade vai abrir “procedimento administrativo interno para apurar o caso,  para tomar todas as medidas necessárias”.

Maria da Penha  

De acordo com a delegada Elizabeth, em 2010 foram registradas 9.427 ocorrências relacionadas à Lei Maria da Penha a aos crimes de natureza sexual. De janeiro a setembro deste ano, o registro é 6.413 boletins. Porém, os dados reunidos na Divisão Especializada de Atendimento da Mulher, do Idoso e do Portador de Deficiência, referentes à capital mineira, são apenas de casos onde há uma relação entre vítima e agressor.

Desde 2006, um serviço telefônico criado pela Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República (Ligue 180) registrou quase 2 milhões de ligações de mulheres com dúvidas sobre a Lei Maria da Penha e denúncias de agressões e relatos de violência, principalmente. Entre janeiro e junho deste ano, o balanço mostra que Minas Gerais ocupa a terceira posição no ranking dos estados que mais procuram o serviço: foram 23.430 ligações neste período. O estado mineiro fica atrás apenas de São Paulo e Bahia. (Colaborou Andrea Silva)

O que um cara faz no banheiro feminino?
Entrevista com a estudante

Como tudo aconteceu?


O intervalo entre duas aulas tinha terminado e voltei para a sala para entregar um troco de lanche que tinha comprado para uma amiga. A professora já estava na sala, mas aproveitei para ir rapidamente ao banheiro. Entrei na cabine e percebi que tinha alguém na cabine ao lado, mas logicamente imaginei que era uma mulher. Usei o banheiro normalmente, lavei e sequei as mãos, me olhei no espelho e caminhei em direção à porta. Quando já estava quase saindo ele puxou meus cabelos por trás e me jogou no chão. Na queda, consegui pôr a mão na porta e ela ficou entreaberta. Com isso, enquanto ele tampou minha boca e tentava me segurar, consegui movimentar o corpo para trás e quase sair do banheiro. Nesse momento gritei e as pessoas das salas próximas ouviram. Ele percebeu a aproximação de outras pessoas e me soltou.

O que você acha de o agressor não ter sido preso?
É um absurdo. Ficou a versão dele contra a minha e isso simplesmente serviu para ele ser liberado. Fico triste porque só aumenta a sensação de impunidade. Ele segurou tão forte meu cabelo que ficou tudo espalhado no banheiro e no corredor. Um rapaz viu a hora em que me levantei e saí do banheiro e a PM pegou todos os dados dele para pôr no boletim. 

O que você espera que aconteça com ele?

Espero que ele seja expulso da universidade e pague pela tentativa de estupro. Mesmo não consumando nenhum ato de violência sexual, o que um cara faz escondido no banheiro feminino? É óbvio que ele queria pegar alguma menina que entrasse no toalete. Dei sorte porque consegui deixar a porta entreaberta e ainda tive condições de mover o corpo para fora. Se eu tivesse caído dentro do banheiro com a porta fechada ninguém escutaria meus gritos, porque o local é pequeno e abafado. O pior poderia ter acontecido. Também espero que a Fumec me ajude na luta para punir o agressor.

O que você vai fazer agora?

Vou esperar o fim de semana para dar uma esfriada na cabeça. Ainda não tenho certeza do futuro, mas todas as possibilidades, como trancar a matrícula e sair da Fumec ou continuar estudando. Vou esperar um contato da faculdade dizendo quais medidas vão ser tomadas, para decidir minha vida. No primeiro momento, os seguranças agiram muito rápido. Um representante da faculdade foi à delegacia e acompanhou tudo, mas hoje (ontem) ninguém me ligou para falar nada.



Fonte: UAI

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