Chuva assola Minas Gerais e já desalojou 15 mil



Enquanto os fluminenses contabilizam a cada minuto prejuízos incalculáveis e choram a tragédia com centenas de mortos, a chuva castiga desde terça-feira dezenas de municípios do Sul de Minas. As cidades estão isoladas, sem comunicação telefônica, energia elétrica e água potável. Inundações, erosões, pontes interditadas, quedas de barreiras e centenas de famílias desalojadas. Os temporais, que continuaram durante todo o dia de ontem, elevaram para 71 o número de cidades em Minas que decretaram estado de emergência. O último a disparar o alarme foi São Sebastião da Bela Vista, segundo informou a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). A única boa notícia é que as chuvas não causaram mortes no estado, pelo menos por enquanto.
As localidades banhadas pelo Rio Aiuruoca e afluentes vivem situações críticas. Alagoa, com 2.709 habitantes, ficou isolada e em muitas casas apenas o telhado permaneceu visível depois que o rio subiu cinco metros. Os acessos aos municípios vizinhos, Itamonte e Aiuruoca, foram interrompidos devido a abalos em pontes, quedas de encostas e formação de crateras em estradas. Segundo a Prefeitura de Alagoa, esta é a pior enchente da história da cidade. O balanço de ontem à tarde indicava 148 pessoas desalojadas, 10 casas destruídas, 53 afetadas e três prédios públicos danificados.
Em Aiuruoca, com 6.173 moradores, a cheia levou transtornos a 130 residências e fez com que 97 pessoas fossem deslocadas de casa. O estado de emergência foi decretado quarta-feira. “Esta é a pior cheia das que temos registro”, avaliou o secretário municipal de Turismo e Meio Ambiente, Javan Senador, acrescentando que todas as estradas da zona rural estão em estado muito ruim. E a tendência é que o quadro piore. “Já recebemos o alerta sobre mais chuvas”, disse.
A situação é complicada também em Itamonte, com 14 mil habitantes. Há dois dias a chuva não dá trégua. O Rio Capivari alagou áreas urbanas, mas a zona rural é a que mais sofre. Estradas foram destruídas e crateras isolaram comunidades como Campo Redondo, Serra Negra e Monte Belo. No Bairro Moradas do Bosque, os alimentos estão sendo transportados via barco até os moradores. A última contagem oficial da prefeitura, que também decretou emergência, há 500 desalojados, que foram levados para escolas e para a igreja matriz da cidade. A Defesa Civil calcula que 80% da cidade teve algum tipo de problema.
Em São Sebastião da Bela Vista, com 4.948 habitantes e estado de emergência decretado ontem, o Rio Sapucaí subiu três metros e alagou cinco bairros da cidade, afetando diretamente 70 casas. As comunidades atingidas ficam afastadas do Centro e o acesso é feito apenas por barcos. “As famílias resistem em deixar o local com medo de terem seus bens saqueados”, afirmou o coordenador da Defesa Civil local, Cristiano Rocha. A prefeitura prepara kits com cesta básica e material de limpeza com cloro, cal virgem e álcool para distribuir aos afetados.
Em Seritinga, 54 famílias do total de 1.790 moradores foram obrigadas a deixar suas casas e se alojaram com parentes, amigos e nos espaços públicos. O Bairro Niterói está sem abastecimento de água e energia elétrica. Na zona rural, entre 70 e 100 pessoas estão isoladas. Uma ponte que faz a ligação com o município de Serranos está interditada.
Em Baependi, seus 18 mil habitantes viram o Rio Baependi e o Ribeirão Palmeiras subirem e alagarem três bairros. A comunidade de Gamarra, na zona rural, está incomunicável. Cerca de 10 casas correm o risco de desabar; uma ponte que faz ligação com a BR-267 está interditada, pois pode cair. O município tem cerca de 1,3 mil quilômetros de estradas de terra, a maioria em péssimas condições, segundo o coordenador da Defesa Civil local, Rander Mendes.
Outro município bastante afetado é Carvalhos, com 4,5 mil moradores, que está sem comunicação telefônica. Outras localidades da Região Sul sofreram com os temporais, como Conceição do Rio Verde, Maria da Fé e Pouso Alegre.
Voos cancelados A chuva também transtorna Belo Horizonte. Pela manhã, o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na região metropolitana, operou por instrumentos devido ao mau tempo. Segundo a Infraero, até as 19h, 19 voos foram cancelados e 52 sofreram atrasos, dos 106 previstos. Em relação aos voos internacionais dois sofreram atrasos dos seis previstos. No aeroporto da Pampulha, dos 29 voos domésticos programados, 11 atrasaram e um foi cancelado. Um curto circuito nos transformadores da subestação da Cemig no Bairro Sion, Zona Sul, deixou parte dos bairros Santo Antônio, Funcionários e Lourdes sem luz. Segundo a Cemig, a interrupção foi por volta das 15h.

Como ajudar as vítimas

A solidariedade é uma das armas para amenizar o sofrimento de milhares de pessoas. Para contribuir as entidades de ajuda abriram vários canais. Se você quiser ajudar, veja como:
A cidade de Alagoa pode ser ajudada com doações de alimentos, roupas, móveis e materiais de limpeza pelo telefone (35) 9974-0194;
A Cruz Vermelha em Minas Gerais ampliou a campanha SOS Chuvas. A entidade recebe doações de roupas, alimentos não perecíveis, água mineral e produtos de higiene na Alameda Ezequiel Dias, 427, Centro de Belo Horizonte, de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 18h. Tel: (31)3239-4200;
A Legião da Boa Vontade está mobilizada para ajudar cidades do Sudeste brasileiro. Em Belo Horizonte, as doações podem ser feitas na Avenida Cristiano Machado, 10.765, no Bairro Planalto, (31) 3490-8101. Colaborações em dinheiro podem ser feitas por depósito bancário conta corrente 92830-5, agência 0292-5, do Banco Bradesco, ou no Banco do Brasil, agência 3344-8, conta 205010-2.
Faltam Comdecs
A Cedec-MG alerta que 173 das 853 cidades mineiras não têm órgãos preparados para enfrentar o período chuvoso. Sem os conselhos municipais de Defesa Civil (Comdecs), o envio de ajuda é dificultado e não há acesso a recursos federais para auxílio a vítimas e reparos em bens materiais. A Cedec já enviou cerca de 60 toneladas de alimentos, 6 mil colchões, 5,5 mil cobertores, 460 quilos de roupas, 77 rolos de lona e 8 mil telhas para 52 cidades afetadas. Boletim divulgado ontem registrava 15,6 mil desalojados, 2,3 mil desabrigados, 72 feridos, 16 mortos e mais de 1,2 milhão de pessoas afetadas. As chuvas continuam hoje e amanhã. (Com informações do jornal Estado de Minas)

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