Ipatinga perde mais um construtor

Duas semanas depois da morte de João Lamego, Vale do Aço se despede do líder siderúrgico Rinaldo Campos Soares 


Homenagens ao ex-presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, reúnem centenas do hall da PMI


IPATINGA – No dia 6 de abril, partiu João Lamego Netto, aos 88 anos, ex-prefeito lembrado como um dos maiores construtores da cidade. Caprichosamente, o destino reservou para este mesmo mês de abril, outra perda irreparável. Centenas de pessoas, dos mais diversos segmentos, se revezaram na visitação ao corpo do engenheiro Rinaldo Campos Soares, velado da manhã até a tarde desta sexta-feira santa (22), no hall de entrada da Prefeitura de Ipatinga. A cerimônia de despedida do ex-presidente da Usiminas, que morreu no feriado de quinta-feira, em Belo Horizonte, aos 72 anos, vítima de câncer, menos de três anos depois de deixar o mais alto posto da maior siderúrgica do Vale do Aço, emocionou não só a família, mas boa parte do vasto círculo de amigos que ele fez na região, onde sua marca de realização está gravada por toda parte. O corpo chegou à PMI num carro de Bombeiros, e a urna funerária entrou no prédio sob palmas. 

Além do atual presidente da Usiminas, Wilson Nélio Brummer, que assumiu o cargo em abril de 2010, no lugar do sucessor de Rinaldo, Marco Antônio Castello Branco - mantido na função pelo curto espaço de dois anos, após uma conturbada gestão -, vários outros diretores e as principais autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário de Ipatinga circularam pelo velório. Havia nada menos que 90 coroas de flores. Várias páginas do livro de presenças foram preenchidas. A família ainda recebeu votos de pesar de prefeitos de toda a região, muitos industriais, empresários do comércio, esportistas, educadores, líderes de entidades sociais, dezenas de profissionais liberais, ex-funcionários, assim como de pessoas simples da sociedade.

Cerimônias religiosas
Durante o velório, entre falas diversas, houve duas rápidas, mas emocionantes celebrações de algumas das mais tradicionais autoridades religiosas da região. O bispo-emérito da diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, Dom Lélis Lara, nascido em Divinópolis e conterrâneo de Rinaldo, exaltou a capacidade empreendedora do siderurgista, seus muitos feitos em favor da comunidade, entendendo que, “sem dúvida alguma, há pessoas que cumprem um ministério especial na face da Terra, enquanto outras, infelizmente, quase não satisfazem às mínimas expectativas, não correspondem ao privilégio de terem nascido”. O presidente da Assembleia de Deus do campo de Coronel Fabriciano e Ipatinga, pastor Antônio Rosa da Silva, também protagonizou um momento muito tocante ao ler para o público presente uma mensagem que Rinaldo lhe encaminhou em vida, reforçando seu compromisso com a comunidade.

Legado
“Ele nos deixa um grande legado, expresso em nossas usinas, fábricas e escritórios, e também nas comunidades onde a empresa se faz presente. Devemos muito a ele. Pelo que ele fez na empresa, na comunidade, enfim, pela indústria brasileira. Este momento de homenagem a ele é um momento de reflexão e de suporte à família, como certamente, também de tristeza para todos nós”, resumiu o presidente da Usiminas, Wilson Brummer, considerando o falecido “um espelho para todos nós”. Junto a ele, também foram vistos vários executivos da Cenibra. Uma das últimas aparições públicas de Rinaldo, na região, foi exatamente na posse do novo presidente da empresa de celulose, Paulo Eduardo Rocha Brant, em substituição a Fernando Henrique da Fonseca, em 9 de abril do ano passado. Discretamente, ele desfilava entre várias autoridades na solenidade realizada em Belo Oriente, que contou também com a presença do governador Antonio Anastasia. Fernando Henrique também se relacionou muito com Rinaldo, tendo cumprido nada menos do que 11 anos como diretor-presidente da Cenibra. Ele assumiu o posto entre 1978 e 1979 e novamente a partir de 2001. 

“Fanático pelo trabalho”
Pesaroso, o jornalista Reuber Salles Bicalho comentava ter saído do Bairro Horto em direção ao Centro observando algumas das imagens da paisagem local que expressam bem a importância de Rinaldo para a história do Vale do Aço: “Entre tantas outras coisas, o próprio Shopping traduz a visão empreendedora do Rinaldo, sua cumplicidade com o desenvolvimento local. Ele era uma pessoa que enxergava muito além do seu tempo e, pra mim, o que mais fica é este revolucionário conceito de cidadania corporativa que ele introduziu na siderurgia, tornando-se um referencial no país”.

O ex-diretor de Desenvolvimento da Usiminas, Márcio Janot Pacheco, não apenas companheiro de trabalho de Rinaldo, mas também seu amigo pessoal, foi indicado pela família para dar uma coletiva à imprensa, durante o velório. Segundo ele, Rinaldo era uma pessoa “fanática pelo trabalho, e por isso mesmo não pôde desfrutar de tantos momentos quanto gostaria junto à sua família; foi alguém de pouca vida privada. Mas, por seu espírito de solidariedade, merecia viver 100 anos com absoluta tranqüilidade e alegria. E isso foi tirado dele”. Janot ainda acrescentou: “Seu sonho era gerar empregos, construir. Tinha grande dificuldade em demitir pessoas. Não fosse a crise que afetou o mundo inteiro, ele certamente teria lançado as bases para a usina de Santana do Paraíso, além da construção do novo aeroporto”.

Ainda conforme Janot, “Rinaldo sempre teve consciência de que a cidade de Ipatinga, sendo berço da Usiminas, tinha que merecer preferência em tudo que fosse possível, como compras que fossem necessárias à empresa. Além disso, eu poderia citar como suas realizações o imenso apoio ao Colégio São Francisco Xavier, importante pilar da educação local; a ampliação do Hospital Márcio Cunha, com a Unidade II; a implantação do Centro de Hemodiálise, da UTI neonatal. Foi sua iniciativa, também, o reflorestamento em áreas estratégicas do município, cuidando do meio ambiente, recuperando terrenos propícios à erosão”.
Outra ação relevante de Rinaldo foi o apoio para a implantação do centro integrado de formação profissional Sesi/Senai, no Bairro Veneza, que acabou recebendo o seu nome. Fonte: JVA online

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