100 MIL DESASSISTIDOS - Hospital Siderúrgica de portas fechadas

FABRICIANO – Usuários que precisaram dos serviços do Hospital Siderúrgica nesta sexta-feira (15) encontraram as portas bloqueadas por placas de madeira e um aviso informando o encerramento das atividades por tempo indeterminado. A crise atual, que culminou com o fechamento do mais antigo hospital da região começou com a não obtenção do Certificado do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), no dia 10 de junho deste ano, problema acrescido ao déficit mensal de R$ 200 mil e uma dívida com a União e outras instituições que gira em torno de R$ 12 milhões. O Siderúrgica era o único hospital da cidade que prestava serviços de Urgência e Emergência pelo SUS, deixando carente de atendimento médico cerca de 100 mil pessoas.

Por meio de nota, a Associação Beneficente de Saúde São Sebastião (ABSSS), mantenedora do hospital, informou os motivos do fechamento: “Diante da não manifestação de apoio financeiro das esferas governamentais Federal e Estadual e da falta de uma política de financiamento público de qualidade no que diz respeito à saúde, a ABSSS ratifica que todas as atividades na instituição estão sendo interrompidas a partir desta sexta-feira (15). Dessa forma, não haverá atendimento médico, tampouco atividade administrativa no Hospital Siderúrgica, por tempo indeterminado. A Associação, cumprindo compromisso de transparência, comunica essa decisão à imprensa e, consequentemente, ao público externo, no mesmo momento em que se reúne com Corpo Clínico e com funcionários e colaboradores para esclarecê-los sobre a suspensão das atividades”, diz a nota.

Audiência de Conciliação 
Nesta quinta-feira (14), o Procurador da República em Minas Gerais, Edmar Machado, representante do Ministério Público Federal (MPF), além dos promotores Walter Freitas, Maria Regina Lages Perilli e Anibal Tamaoki, representantes do Ministério Público Estadual (MPE) das comarcas de Ipatinga, Timóteo e Coronel Fabriciano, respectivamente, informaram a imprensa e comunidade sobre o ajuizamento de ação civil pública no dia anterior, que resultou em uma Audiência de Conciliação. O pedido foi atendido pela Justiça Federal nesta sexta-feira (15), e a audiência já está marcada para a próxima sexta-feira (22). 

O MPF e os promotores de Justiça pediram que a audiência fosse marcada para que seja tentado um acordo entre os representantes dos três entes públicos responsáveis pela gestão do SUS - União, Estado e Município - de forma a encontrar uma solução que viabilize o atendimento aos pacientes. A Justiça Federal irá intimar o secretário de Saúde do Município de Coronel Fabriciano, o diretor da Gerência Regional de Saúde (que representa a gestão estadual na região) e o secretário de Atenção à Saúde (do Ministério da Saúde), para que compareçam pessoalmente ou por meio de representantes.

Os autores da ação também pediram que esses gestores compareçam munidos dos dados referentes à série histórica dos três últimos anos de atendimento hospitalar e pronto atendimento ofertados pelo Município de Coronel Fabriciano, de forma que seja possível identificar a demanda do município e a possível migração dessa demanda para os municípios vizinhos.

Também deverão ser convidados para a audiência os secretários municipais de saúde dos municípios de Ipatinga e Timóteo, bem como o provedor da associação mantenedora do Hospital siderúrgica, para que possam esclarecer dúvidas e colaborar para uma eventual concretização de acordo.


Prefeito afirma que vai mandar doentes para Timóteo e Ipatinga

O prefeito Chico Simões (PT) falou à imprensa em coletiva em seu gabinete, nesta sexta-feira (15), para comentar o fechamento do Siderúrgica e as medidas tomadas pelo MPF e pela CMCF. “A postura do MPF foi correta. Ele acionou os responsáveis pela saúde, não apenas um lado, mas todos os que têm responsabilidade. Porém, imagino que o poder judiciário não vai mover uma palha para resolver este problema. A questão é que cada um está procurando levar proveito do seu jeito, e quem paga é a população, que padece sem saúde”, afirmou Simões. 

Caos já existia
O prefeito afirma que a crise do Siderúrgica não é o principal motivo do caos na saúde do Vale do Aço. “O problema já existia, a crise já estava instaurada há muito tempo. O Siderúrgica foi a gota d’água. A crise aqui começou quando fecharam o Hospital Nossa Senhora do Carmo, e desde então foi piorando. O Márcio Cunha já atende acima da capacidade, o Vital Brazil está entupido, os postos estão sem médicos, o atendimento da saúde no Vale do Aço está precário, nenhum município tem a saúde como deveria ser. Temos um déficit de leitos de 50%. A atenção básica é falha em todas as cidades, em todo o país. É ruim até em cidades ricas. Temos que começar uma discussão para mudar este quadro, e ela pode começar no Vale do Aço, onde a crise está culminando no fechamento de um hospital, e se espalhar por todo o Estado, para o problema ser discutido e solucionado como deve ser”, declarou.

Solução?
O prefeito também elogiou a maneira responsável como a Câmara de Vereadores está tratando a questão e afirmou que existe, sim, uma solução definitiva. “Ontem o legislativo esteve reunido, também em busca de uma solução para este problema da saúde. Todos sabem que eu e o presidente da Câmara somos adversários políticos, mas neste momento a briga não é política, e sim pelo bem do povo. Temos que resolver este problema de uma vez por todas. Temos que discutir este problema, e não só em Fabriciano, mas de forma metropolitana. Tem que auditar o hospital, fazer uma intervenção, penalizar os culpados e quem sabe, fazer uma limonada deste limão. Pode ter um Hospital Regional naquele espaço, a área é boa. É uma sugestão que eu dou. A prefeitura aceita administrar o Siderúrgica, desde que não seja a responsável pelo custeio, porque não temos de onde tirar receita para manter um hospital”, explicou.

Atendimento em Ipatinga e Timóteo
Indagado sobre o que a Prefeitura fará agora com casos de média e alta complexidade, o prefeito foi direto. “Vamos mandar para Timóteo e Ipatinga. Eles não são obrigados a atender casos de baixa complexidade, mas emergências eles são obrigados a atender por lei. Temos ambulâncias na cidade e iremos levar, sim. Além do mais, eles não podem recusar acolher nenhum paciente, até para a segurança do profissional”, finalizou Simões.


Hospital Municipal de Ipatinga não suporta aumento de demanda

Por meio de nota, a Prefeitura de Ipatinga afirmou que tomou conhecimento do fechamento do Siderúrgica, e que já atende além do limite de sua capacidade. “Qualquer aumento na demanda pode afetar a qualidade do atendimento no Hospital Municipal. O HMI foi projetado para 80 leitos e conta com o dobro de pacientes internados. A média de atendimento diária é de 500 pacientes”, informou a assessoria da PMI.


UPA será restrita a timotenses em agosto

A negativa de Timóteo em atender pessoas de outras cidades na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Olaria é totalmente viável do ponto de vista jurídico. Segundo a Promotora Maria Regina, a UPA não presta atendimentos de alta complexidade, podendo assim, recusar pacientes com problemas de baixa complexidade. O secretário de Saúde de Timóteo, Fabiano Moreira, afirmou que a cidade manterá a suspensão do atendimento na UPA para o começo de agosto. Sobre o atendimento de urgência e emergência, que na cidade é prestado pelo Hospital e Maternidade Vital Brazil, o secretário disse que deve continuar normalmente. A diretoria do HMVB irá se pronunciar na próxima segunda-feira (18) sobre a atual situação do atendimento, com o fechamento oficial do Siderúrgica. A diretoria já anunciou que poderá a vir interromper o atendimento pelo SUS de média e baixa complexidade caso a situação não seja alterada. O HMVB atende com 95% de sua capacidade total, quando o recomendável é 80% e teme um colapso, já que seu déficit está, mensalmente, em torno de R$ 600 mil.

Fonte: JVA online

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