Cineasta lança documentário sobre o Massacre de Ipatinga

Equipe durante as filmagens de 'Silêncio 63' em julho de 2009, em Ipatinga
IPATINGA - O cineasta ipatinguense Fábio Nascimento terminou em março os trabalhos do filme "Silêncio 63", que conta a história do Massacre de Ipatinga, ocorrido no início da década de 60. A produção é um curta-metragem em formato documental que busca resgatar o fato que até hoje é cercado de mistérios e dúvidas.
As gravações do documentário aconteceram em Ipatinga, durante o mês de julho de 2009. Fábio, juntamente com uma equipe composta por mais quatro pessoas, colheram depoimentos de pessoas ligadas direta ou indiretamente à tragédia. 
Mesmo não tendo presenciado o Massacre de Ipatinga - Fábio nasceu em 1985 - o assunto sempre instigou o cineasta. Segundo ele, o primeiro contato com a história aconteceu quando ele ainda cursava o ensino fundamental. Sua curiosidade foi grande e quando passou a ter contato com o cinema documentário pensou em fazer um filme sobre os acontecimentos de 1963.

TABU
O diretor então percebeu a dificuldade de abordar o tema. "Tratava-se de um assunto tabu. Na escola, na sociedade, na família ou no cinema. Nesse momento percebi que o que mais me instigava não era a verdade sobre os fatos, mas o silêncio em torno deles, a opressão, o não-dito, o medo, o calado. Resolvi que queria contar a história do silêncio que envolve o massacre, as pessoas, a cidade, a escola, a família, a mim mesmo. Percebi que era um filme sobre o silêncio, e daí o título", explicou o cineasta.
E é exatamente o silêncio que o curta se propõe a quebrar. Ao longo de 24 minutos, quatro pessoas falam do massacre, de suas relações com o fato e das causas que levaram ao ocorrido. 

RELATOS
Entre os entrevistados está Rossi do Nascimento, filho de José Isabel Nascimento, fotógrafo amador e um dos únicos a registrar o massacre. Durante o movimento, José foi atingido por vários tiros e faleceu.
Em seu depoimento, Edson de Oliveira defende que os fatos foram um ensaio para o golpe de 1964, que colocou o Brasil em estado de ditadura militar até 1985.
O filme tem ainda entrevistas com o professor de história Sérgio Duarte e José Elias dos Santos, o seu Juca, operário da siderúrgica na época e que esteve presente no dia do Massacre e chegou a ser alvejado pelos militares.
A primeira projeção de "Silêncio 63" aconteceu no dia 31 de março, exatos 47 anos após o golpe, no cinema L?Écran, na França. Já a primeira projeção em festival será em Cannes, no Short Film Corner, que acontece entre 11 e 22 de maio.
Fábio adianta que projeções nas cidades mais relevantes para o filme serão organizadas, onde haverá a oportunidade de construir um debate em torno do tema do silêncio.

O MASSACRE
A história oficial conta que o Massacre de Ipatinga, ocorrido no dia 7 de outubro de 1963, foi originado por um atrito entre militares e funcionários da Usiminas, que protestavam por melhores condições de trabalho. Segundo a história, foram oito mortos ao todo, mas esses números são contestados e algumas versões chegam a contar mais de 80 vítimas fatais.

O DIRETOR
Fábio Nascimento é natural de Ipatinga. Graduou-se em Cinema pela Université de Paris 3 - Sorbonne Nouvelle e, na seqüência, ingressou no mestrado de Cinema Documentário da Université de Paris 8 - Vincennes Saint-Denis.
Na maior parte do tempo, ele se dedica à fotografia profissional que realiza para a imprensa, entre fotos humanistas, de música, moda, perfis e still. 
Ele também faz parte do grupo parisiense "Clint is Gone", uma espécie de folk contemporâneo com pitadas de Tropicália, cujo primeiro EP homônimo foi lançado de forma independente em dezembro de 2009, e que segue tocando na capital francesa e em outras partes da Europa.
Atualmente, Fábio está em Marseille, na França, concluindo um outro documentário que será apresentado no Festival Internacional do Documentário de Marseille - FID. fonte: Diário Popular

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