Relatos reconstroem os últimos passos das vítimas de chacina de menores de Ipatinga

Eduardo Dias Gomes
John Enison

Nilson Nascimento


05-11-2011 10:52


IPATINGA - As circunstâncias em que foram mortas as quatro vítimas da Chacina de Menores, em Revés do Belém, ainda é um mistério a ser desvendado pela polícia investigativa. A identificação dos menores, primeira parte dos trabalhos, pode ser concluída com a coleta de material biológico da avó de um dos menores, feita na manhã de ontem (4), em Caratinga.
Na tentativa de reproduzir os últimos passos dos quatro menores e esclarecer alguns equívocos ditos por terceiros, a reportagem do DIÁRIO POPULAR foi à residência dos familiares das vítimas e conversou com a Polícia Militar.
Os garotos moradores do bairro Caravelas foram vistos pela última vez, por familiares, na manhã do dia 24 de outubro. Os amigos John Enison da Silva, de 15 anos; Nilson Nascimento Campos, de 17 anos; Felipe Andrade, de 15 anos, e Eduardo Dias Gomes, de 16 anos, se encontraram e saíram juntos por volta do meio-dia, sentido ao bairro Jardim Panorama.

TRÁFICO

De acordo com o capitão Luiz Magalhães, responsável pela da 82ª Cia de Polícia Militar, uma viatura avistou o grupo de amigos e outras pessoas em atitude suspeita na rua Lorena, bairro Jardim Panorama, por volta das 12h50. Então, os militares que patrulhavam o local revistaram os menores juntamente com os suspeitos Ronilson Fernandes Ferreira e Wesley Carlos Ferreira dos Santos, ambos maiores.
Dois adolescentes foram encontrados pela PM com pedras de crack e dinheiro. A propriedade dos entorpecentes foi atribuída aos menores John Enison e Nilson e também a Ronilson e Wesley.
Os quatro foram detidos e levados para a Delegacia de Ipatinga. Na ocasião, Felipe e Eduardo não foram apreendidos. A ocorrência policial foi encerrada por volta das 17h e os quatro conduzidos foram entregues ao delegado de plantão.

FICHA CRIMINAL
Segundo dados da Polícia Militar, John Enison, Eduardo e Felipe tinham quatro passagens por furto e roubo. Já Nilson tinha uma ficha criminal mais extensa, com sete passagens, incluindo registros por uso e tráfico de drogas.
Magalhães revelou que o grupo era visto constantemente pelas ruas adjacentes à BR-381, região dos motéis, próximo às ruas Serra Geral, Passo Fundo e na Grota do Jardim Panorama.
"Nesses locais em que os menores eram vistos, há uma grande incidência de tráfico de drogas. Temos registros de que os quatro foram abordados mais de 20 vezes, juntos, nas imediações da rodovia", comentou o capitão.

PEDRADA

Os dois menores, John Enison e Nilson, foram liberados pela Polícia Civil por volta das 17h30. Os maiores Ronilson e Wesley foram autuados em flagrante por tráfico de drogas pela polícia investigativa. Já os dois amigos se encontraram na porta da delegacia com Felipe e Eduardo.
Pouco antes de saírem das imediações da Delegacia, Felipe se apoderou de uma pedra e jogou-a contra uma viatura da Polícia Civil, conforme afirma declaração do tenente-coronel Francisco Assis, comandante do 14° Batalhão de Polícia Militar.

"Cumpre-me esclarecer que, ao contrário do que foi divulgado, nenhuma viatura da Polícia Militar teve seus vidros quebrados ou foi apedrejada nas proximidades da Delegacia de Ipatinga. Essa informação é relevante para que não haja equívoco ou mesmo suspeitas contra integrantes da PM", explicou.


Avó afirma que neto afrontava policiais


Maria Aparecida Gomes afirmou que o neto morava com a mãe em outro município, mas sempre a visitava em Ipatinga


IPATINGA - A dona-de-casa Maria Aparecida Gomes Andrade, de 53 anos, é avó de Felipe Andrade. O garoto também foi localizado morto e identificado como uma das vítimas da chacina. Ela sempre criou o garoto, mas quando ele completou 13 anos foi morar com a mãe em Governador Valadares .
"Meu neto era uma pessoa nervosa que aprontava muito, mas só em Ipatinga. Com a mãe dele em Governador Valadares, ele trabalhava vendendo DVD e não aprontava. Só ficava em casa vendo televisão. Ele veio para Ipatinga na sexta-feira, antes dele sumir, para meu aniversário. Só que depois dos amigos dele terem sido presos, ele foi para a delegacia, pois ficou preocupado. Depois disso ele não voltou mais para casa. Fui até a cama onde ele costumava dormir por volta de meia-noite e ele não estava em casa", recordou Maria Aparecida.


Mãe diz que saiu da cidade para tirar filho "do caminho errado"




A mãe de Nilson foi morar em Periquito, mas não adiantou

IPATINGA - Preocupada com as más companhias com as quais o filho andava, Maria de Lourdes Nascimento, de 59 anos, mãe do menor Nilson, uma das vítimas da chacina, saiu de Ipatinga há alguns meses para morar em Periquito. Ela viu o filho pela última vez em 22 de outubro, quando ele saiu de casa dizendo que iria passear em Ipatinga.
"Ele disse que vinha passear e voltava, mas não retornou. Então, na segunda ele foi preso e minha irmã que mora aqui teve que ir até a delegacia para retirá-lo. De lá ela mandou que ele fosse embora, só que ele não quis e saiu com os outros meninos que estavam com ele. Ela me ligou e pediu que eu voltasse para Ipatinga para buscá-lo, foi então que não o encontrei", contou.
O menor não trabalhava e nem estudava. A família sabia que Nilson era usuário de droga. A mãe disse que o adolescente não roubava. Depois que soube da morte do filho, Maria informou que vai voltar para Ipatinga. "Na minha casa no Periquito tenho muitas lembranças dele. Para evitar mais sofrimento quero voltar para cá", justificou.





Fonte: Diário Popular

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