TEÓFILO OTONI - Remédios que podem ter matado 8 eram manipulados em laboratório clandestino


13-12-2011 09:19

Frasco do medicamento Secnidazol, produzido pela Fórmula Pharma
LEONARDO MORAIS/HOJE EM DIA/AE
13-12-2011 09:24
A farmácia Fórmula Pharma, responsável pela manipulação do lote de medicamento Secnidazol 500 mg, suspeito de provocar a morte de oito pessoas e deixar um casal internado em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, será investigada pela Polícia Civil por funcionar como laboratório clandestino. A farmácia, que era uma das maiores da cidade, atuava há dez anos sem que a fiscalização municipal percebesse as irregularidades. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) abriu processo administrativo para investigar o caso.

De acordo com o órgão, a fiscalização de farmácias em Teófilo Otoni é de responsabilidade do município. "Entramos no caso quando recebemos a primeira denúncia (de pessoas com reações ao medicamento). A partir daí, constatamos as irregularidades no processo de manipulação feito pela Fórmula Pharma", informou o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde da SES, Carlos Alberto Gomes. "Quando vimos que não era uma falha sanitária, mas, sim, crime, acionamos imediatamente a polícia". Segundo ele, o que caracterizou a atuação como laboratório clandestino foi a manipulação de medicamentos em larga escala, para estocagem. O laboratório de manipulação tem autorização para produzir remédios individualmente, sob prescrição médica. "O estabelecimento utilizava, inclusive, receitas com nomes de pessoas mortas para a fabricação", diz Gomes.

Mesmo depois de receber a interdição cautelar, há dez dias, quando a farmácia foi proibida de manipular qualquer tipo de medicamento, o proprietário, Ricardo Luiz Portilho, que é farmacêutico, continuou a produzir e a comercializar remédios.
De acordo com a Polícia Civil, as investigações já foram iniciadas. Tanto o dono da farmácia quanto a farmacêutica responsável, Anne Pinheiro Nascimento Souza, serão chamados a prestar depoimento.

O Ministério Público, por meio da Promotoria de Justiça e Defesa da Saúde de Teófilo Otoni, também acompanha o caso. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, a promotoria aguarda apenas os relatórios da SES e da Polícia Civil para dar sequência à investigação.

Ainda de acordo com a SES, uma peça chave na investigação será a análise de uma amostra do Secnizadol usado pelas vítimas de Novo Cruzeiro, cidade próxima a Teófilo Otoni. Familiares de duas mulheres que morreram no município entregaram à Polícia Civil uma cápsula que não foi utilizada. "Com essa amostra, vamos ter certeza se houve a troca dos princípios ativos, ocasionando essas mortes", disse o subsecretário Carlos Gomes.
Saiba mais
Amostras. Das 180 cápsulas do Secnidazol produzidas pela Fórmula Pharma no lote produzido no dia 14 de novembro, 62 ainda estão desaparecidas. "Apreendemos 50 cápsulas na farmácia. As outras 68 foram identificados a partir de 11 receitas médicas", segundo o subsecretário de Estado de Saúde.

Sintomas. A intoxicação pode provocar queda da pressão arterial, batimento cardíaco reduzido, dores no peito, cianose (pele arroxeada) e sensação de desmaio.

SUPERDOSAGEM
Troca de substâncias seria causa de mortes
A principal suspeita da Secretaria de Estado de Saúde (SES) é que, em vez de usar o antiparasitário Secnidazol na fórmula, a farmácia de Teófilo Otoni manipulou Metoprolol, um anti-hipertensivo. O erro teria se agravado porque a farmácia considerou a dosagem indicada para o tratamento de combate a vermes e corrimentos vindos de doenças sexualmente transmissíveis.

Assim, além de ingerirem um medicamento errado, os pacientes foram submetidos a uma dosagem cavalar do anti-hipertensivo, que pode ter chegado a até 40 vezes a mais que o suportado pelo organismo. "A dose correta do Metoprolol é 50 mg. Suspeitamos que no remédio ingerido pelas vítimas havia 2 g. Mas isso quem vai confirmar é a Fundação Ezequiel Dias", explicou o subsecretário Carlos Alberto Gomes.


Segundo ele, a ingestão da alta dosagem do Metoprolol levou os pacientes a um quadro de redução drástica dos batimentos cardíacos e de falência múltipla dos órgãos.


As mortes ocorreram entre os dias 20 de novembro e 11 de dezembro. Além de Novo Cruzeiro, que notificou três óbitos, pacientes de Teófilo Otoni (dois), Ladainha (dois) e Itaipé (um) morreram após ingerirem o remédio. (IC)




EXAMES
Seis corpos serão exumados
Teófilo Otoni. De acordo com o delegado chefe do 15º Departamento de Polícia Civil de Teófilo Otoni, Antônio Carlos de Alvarenga, a polícia deverá solicitar, nos próximos dias, a exumação dos corpos de seis das oito vítimas. Ele explicou que não foi feita a necropsia das vísceras dessas pessoas, uma vez que, no enterro delas, não havia indícios tão fortes da relação de intoxicação entre os casos.

"Queremos que isso seja feito o mais rápido possível. Os familiares dessas pessoas serão contactados. Queremos também que eles prestem esclarecimentos para falar de como as pessoas passaram mal. Isso tudo pode ser importante para a conclusão do inquérito", afirmou Alvarenga.


O empresário e bioquímico Ricardo Luiz Portilho, proprietário da Fórmula Pharma, deve comparecer amanhã à Delegacia Regional de Teófilo Otoni. De acordo com a delegada Herta Coimbra, que preside o inquérito da Polícia Civil, ele entrou em contato com ela na manhã de ontem, via telefone, e foi verbalmente intimado a prestar esclarecimentos sobre a manipulação dos medicamentos.


Herta informou que outros quatro funcionários da farmácia, entre eles a técnica responsável pela manipulação dos remédios, também foram intimados e devem depor amanhã.
"Ele (Portilho) falou que está em Belo Horizonte resolvendo problemas pessoais, mas q

ue vai se apresentar", afirmou a delegada. Há uma semana, Portilho se apresentou à delegada para prestar depoimento sobre as supostas mortes por intoxicação. Herta informou que, na ocasião, o empresário negou erro na manipulação dos remédios e disse que o procedimento na farmácia é realizado conforme determina a Vigilância Sanitária.

A Polícia Civil informou que Portilho pode ser indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e adulteração culposa de medicamento. Os crimes têm pena mínima, cada um, de um ano de prisão. A máxima é de três anos. (Raphael Ramos)



Fonte: O Tempo

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