“Lavadores” de carro em Timóteo chegam a faturar até R$ 800

Índio trabalha na Praça 1º de Maio há mais de 15 anos - Foto: Lairto Martins/Portal JVA online
TIMÓTEO – Para atender a exigências ecológicas, o setor de meio ambiente da Prefeitura Municipal de Timóteo está estudando uma forma de eliminar os pontos de lavadores de carros das praças públicas, desde que esteja assegurada a inserção dos rapazes no mercado formal da cidade. Porém, os usuários do serviço temem que não haja como aproveitá-los, e eles próprios se sentem muito à vontade no trabalho, que chega a render mais de R$ 800/mês a alguns. Muitos mantêm o mesmo ponto há mais de 15 anos, e outros começaram a trabalhar ainda na infância. O metalúrgico Jairo Ramos Pedroni tem 47 anos e diz que sempre deixa o seu carro na mão dos lavadores, na Praça 1º de Maio. Para ele, é melhor que os garotos lavem carros a estarem roubando.

Já Marconi Domingues, de 52 anos, mesmo defendendo que a atividade não seja suprimida, entende que algumas coisas ainda podem ser melhoradas. “O problema do trabalho deles é a questão do estacionamento. Eles podem trabalhar, contanto que respeitem quem quer usar a vaga para estacionar o carro. Uma vez eu queria parar em um lugar aqui no centro, o que já é por si só complicado devido ao número de vagas, e tinha um cone na vaga. Pedi para o garoto tirar e ele disse que o lugar era reservado para lavagens. Isto não pode. Tem que lavar para estacionar? Se não quiser lavar, pode apenas estacionar, o motivo da vaga é este. Tirando este problema, o trabalho deles é muito bom”, explicou.

Outro que sempre lava o carro na praça é o técnico de laboratório Dewison Fernandes, de 27 anos. Na visão dele, o grande problema é dar uma nova oportunidade para estes trabalhadores. “Vai colocar eles para trabalhar onde? Sabemos das dificuldades para estacionamento, e tem a questão do sabão e outros produtos químicos caindo na rede de esgoto. Mas é preciso criar alternativas que eles sustentarem suas famílias”, afirmou.

No mesmo ponto há 15 anos
Apenas na Praça 1º de Maio existem quatro pontos de lava-jatos a céu aberto. Em um deles, Márcio Alves dos Santos, conhecido como Índio, trabalha há 15 anos. Ele não é o mais velho da praça. Outros estão lá há mais de 20 anos. Mas ele já tem sua clientela fixa. Durante os 20 minutos que a reportagem do jornal VALE DO AÇO esteve na Praça 1º de Maio conversando com o lavador, seis carros pararam pedindo uma ‘ducha’, além de outros serviços. Ele nem conseguia conversar com a reportagem direito. “Trabalho no mesmo ponto há 15 anos. Tenho uma freguesia fiel. O trabalho não para aqui”, disse, sempre interrompido por algum cliente que parava seu veículo e pedia o serviço.

Segundo o lavador, ele consegue tirar cerca de R$ 800 mensais. “Não tenho outra profissão, não sei fazer outra coisa. Estou habituado a isto. Tenho a minha clientela, tem uma dona que lava o carro comigo há sete anos. Tenho a confiança daqueles que deixam o carro comigo, e tenho a responsabilidade de fazer um serviço bem feito”, declarou Índio.

Indagado sobre o que a administração municipal poderia fazer para ajudar a melhorar o seu trabalho, ao invés de cortar o serviço, ele falou de uma solicitação antiga. “Acho que eles podiam é colocar um relógio aqui pra mim, pra poder medir o tanto que eu gasto com água e eu poder pagar isto. Não quero ficar usando água de graça. Mas preciso continuar trabalhando”, disse.

Desde os 10 anos 
Isonilson de Carvalho, morador do Bairro Bela Vista, tem 18 anos e trabalha no lava-jato do estacionamento da Câmara Municipal de Timóteo. Segundo ele, são oito anos no mesmo lugar. “Comecei a trabalhar aqui vigiando carro, com dez anos de idade. Várias vezes cortaram a água aqui, aí eu lutei, corri atrás”, contou o lavador.

Segundo Isonilson, são lavados cerca de dez carros por dia no seu ponto, com uma renda mensal de R$ 800, para os dois lavadores. A clientela é formada principalmente por pessoas que trabalham nos prédios da Prefeitura e da Câmara, além de pessoas que moram nas proximidades. “Nossa clientela são os vereadores, pessoas que moram perto daqui, pessoas da prefeitura e outros. Quem trabalha aqui perto são os que mais usam”, afirmou.

Ele ficou sabendo da possibilidade de as atividades serem interrompidas por ouvir de outros lavadores. “Não sei o que fazer se eu sair daqui. Não tenho estudo, não tenho outra profissão, não sei fazer outra coisa a não ser lavar carro. Vai ser difícil arrumar outro emprego”, finalizou o lavador.

Fonte: Reportagem do JVA online

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