Sedã emergente, Peugeot 408 mantém status de figurante


Se o mercado de carros fosse uma faculdade, o segmento de sedãs médios seria a disciplina mais difícil. Alunas exemplares, Toyota e Honda são hoje praticamente as únicas aprovadas na matéria, além da cada vez mais popular Kia e seu sedã Cerato.

Já as outras alunas…literalmente todas precisaram de reforço escolar: enquanto Chevrolet e Citroën ainda passaram raspando, Renault, Nissan, Fiat, Ford, Volkswagen e Peugeot literalmente tomaram bomba dos professores, os clientes. A primeira fracassou com o Mégane II, que é um bom carro mas sem apelo; a Nissan tem no Sentra um modelo moderno, mas de público restrito; a Fiat anabolizou o Linea e nem assim ele emplacou; a Ford vende bem o Focus, porém o hatch e não o sedã, a Volks atacou sem sucesso pelas bordas – o Bora mal aparece e o Jetta custa muito – e a Peugeot transformou um belo carro, o 307 hatch, num sedã feio.
Em 2011, a maior parte delas fará uma nova investida na categoria, usando como inspiração os “crânios da classe”. A Chevrolet trará o Cruze, um sedã de origem coreana e jeito japonês, a Volkswagen lançará o novo Jetta, mais espaçoso e bem equipado (e, espera-se, mais barato), e a Renault acaba de iniciar as vendas do Fluence, um francês com dotes asiáticos. Para complicar mais a cabeça do consumidor, a Toyota atualizará o Corolla em abril e a Honda lançará a nova geração do Civic em julho.
Para gente alta
Diante de um panorama como esse o que fez a Peugeot? Foi conservadora. Repensou o 307 Sedan dos pés a cabeça e criou o 408, que apesar do código, é um parente do hatch 308, por sua vez, sucessor do 307. Erros do passado foram corrigidos a começar com o design próprio do modelo e o alongamento da carroceria, uma obrigação em sedãs. O espaço interno foi talvez o ponto mais privilegiado no novo projeto. Uma pessoa com 1,90 m consegue viajar com conforto tanto na frente quanto atrás.
No porta-malas, espaço de sobra também. São 526 litros de capacidade e um capricho: as dobradiças pantográficas, um sistema que não invade a abertura do bagageiro e anda em baixa em outras marcas devido ao custo.
Evolução invisível
Apesar do estilo chamativo, mas elegante (embora fora de sintonia com a nova filosofia de design da marca introduzida pelo sedã 508), o 408 exibe preocupações menos visíveis mas que são de suma importância para esse tipo de cliente. Entre elas estão o padrão de acabamento superior ,que inclui cobertura emborrachada do painel e o isolamento acústico aprimorado.
A lista de equipamentos é bem extensa e traz de série airbags, ar-condicionado, trio elétrico, direção hidráulica, rádio com recursos como Bluetooth, MP3 e entrada para iPod e USB, comandos satélites de piloto automático e rádio, chave keyless, faróis de neblina, rodas de liga aro 16, entre outros. Mas a Peugeot acabou reservando os itens mais interessantes para as versões Feline (R$ 74.900) e Griffe (R$ 79.900), bem mais caras, deixando a Allure (R$ 59.500 no manual e R$ 64.500 no automático), de entrada, com um pacote comum. Exemplos: os seis airbags, o ar digital dual zone, os bancos de couro, rodas aro 17, sensores de estacionamento e de chuva e até a iluminação com fundo branco são exclusivas dos dois, sem falar no GPS opcional integrado ao painel e que tem a vantagem de poder ser rebatido.
“Novo” câmbio é a decepção
Se no visual e nos equipamentos o Peugeot 408 evoluiu, na parte mecânica o sedã deixou a desejar. A exceção é o potente motor 2.0 16V flex que rende 151 cv com etanol. Ele merecia um câmbio melhor, mas a montadora preferiu tentar melhorar a criticada transmissão de quatro marchas que é usada por ela desde o 307. De respostas lentas e imprecisas, o conjunto acaba prejudicando a dirigibilidade do carro. A suspensão, outro ponto inferior no antecessor, melhorou mas não o suficiente para filtrar as imperfeições do solo – em alguns momentos durante o test-drive a vibração sentida no volante era insuportável.
Talvez por já esperar uma recepção morna nesse sentido, a Peugeot fez questão de anunciar durante o lançamento que o 408 terá o motor 1.6 THP e o câmbio automático de seis marchas que equipam o crossover 3008 no final do ano, numa nova versão topo de linha. Sobrealimentado e com sistema de injeção direta de combustível, o motor THP foi desenvolvido em conjunto com a BMW é um dos mais modernos do mercado.
Figurante
Nos cerca de 180 km em que convivemos com o Peugeot 408 nas versões Griffe e Feline, durante a subida e descida da serra que leva à cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, o sedã mostrou-se apenas uma correção de rota em relação ao 307 Sedan. A montadora francesa, é verdade, tem agora um modelo com atributos semelhantes aos dos rivais, mas nada que motive um cliente tradicional a mudar de marca, ainda mais sabendo que Toyota e Honda irão mostrar novidades este ano.
Mesmo a preocupação com o pós-venda (garantia de três anos, revisões com preço fixo e mais em conta), um dos principais méritos dos japoneses, parece ser suficiente para virar o jogo. A própria Peugeot deve pressentir isso porque a expectativa de vendas é modesta: apenas 1.500 unidades mensais, menos do que vende hoje o Kia Cerato, importado.
Aliás, nos cálculos da montadora isso significaria 10% de participação entre os sedãs médios. O problema é que as vendas mensais da categoria oscilam entre 17 mil e 18 mil carros. Em outras palavras, ou a Peugeot espera vender mais do que o divulgado ou, então, aposta numa queda brusca nas vendas de sedãs médios. Com tantos “alunos dedicados” prometendo novidades em 2011, essa hipótese parece bem improvável.

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