Após testemunhar contra policial, “Cabeça” é morto em Ipatinga

O rapaz estava sentado em sua bicicleta na Rua Caldeus quando recebeu os disparos efetuados por homens em uma moto. Cleidson foi alvejado por tiros no ombro direito e morreu após socorrido ao hospital
Crédito: Foto-AKR/JVA online
20-09-2011 09:49
IPATINGA – Testemunha de um assassinato que tem como principal suspeito um policial militar, Cleidson Mendes do Nascimento, o “Cabeça”, de 26 anos, também acabou vítima de um homicídio na noite desta sexta-feira (16), no Bairro Canaãzinho. Ele recebeu dois tiros quando estava sentado em sua bicicleta na Rua Caldeus. Socorrido ao Hospital Municipal de Ipatinga (HMI) por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), “Cabeça” não resistiu aos ferimentos. 

Há aproximadamente um mês, Cleidson esteve no Fórum Dra. Valéria Alves, no Centro de Ipatinga, depondo no caso do assassinato do comerciante Ricardo de Souza Garito, 35, morto a tiros em 22 de abril de 2007, também no Canaãzinho. O principal suspeito de matar Garito é o soldado da PM Victor Emmanuel Miranda de Andrade, que já foi lotado no 14º Batalhão de Polícia Militar de Ipatinga, mas agora faz trabalhos administrativos no 8º Batalhão de PM de Lavras, no Sul de Minas. 

Durante o depoimento no fórum, Cleidson teria reiterado que quem matou o comerciante foi Victor Emmanuel, que responde a outros seis processos por homicídios em Ipatinga. “Cleidson estava aqui em casa, mas foi para a residência da namorada. Chegando lá ele recebeu um telefonema, falou que ia dar uma volta de bicicleta e saiu. Lá na Rua Caldeus ele recebeu os tiros. Eu não sei de mais nada. Meu filho não estava sendo ameaçado, pois não tinha inimigos. Ele era muito querido por todos e eu não sei quem fez isso”, declarou a mãe de “Cabeça”, a pastora evangélica Eva Mendes do Nascimento. Ela disse que temia pela segurança do filho pelo fato de ele ter testemunhado contra um policial e chegou a alertar o juiz Antônio Augusto Calaes de Oliveira, da 2ª Vara Criminal de Ipatinga. “Eu falei com o juiz, com o doutor Calaes: ‘O senhor está trazendo o meu filho para a morte, pois ninguém nunca conseguiu prender esse policial (Victor Emmanuel)’. Ele já matou várias pessoas em Ipatinga e ninguém conseguiu prendê-lo. O Dr. Calaes me disse que não havia como prender esse policial e eu voltei a falar: ‘O senhor está trazendo o meu filho para a morte’”, contou a mãe de Cleidson, afirmando que também chegou a ir à sede do Ministério Público, no Bairro Cariru, para pedir proteção ao filho. “A polícia não podia protegê-lo. Eles falam que bandido é que mata, mas polícia também mata. Ontem (nesta sexta-feira) a PM veio aqui em casa tentar me convencer que Cleidson era um traficante, mas ele não era, pois na minha casa quem trata de mim é o povo. Meu filho lutava contra um câncer e estava conseguindo vencê-lo, mas não conseguiu vencer o homem, porque o homem é mal. O homem é mal e arrancou a vida do meu filho. Ele era meu filho e também pai, pois tratava de mim”, desabafou Eva, que estava muito emocionada e chorava durante a entrevista ao jornal VALE DO AÇO na manhã deste sábado (18). 

Garganta
“Cabeça”, conforme a mãe, sofria com um câncer na garganta e estava fazendo tratamento no Cor (Centro de Oncologia e Radioisótopos) de Ipatinga. “Meu filho quase não saía de casa. À noite ele só andava de bicicleta um pouco porque o médico pediu. Ele também estava fazendo academia. Ontem (nesta sexta-feira) meu filho foi à na rua de cima e eles o mataram. Destruíram minha vida, pois ele que tratava de mim, uma vez que era aposentado por invalidez. Arrancaram meu coração. Não quero que mãe nenhuma passe o que estou passando”, afirmou Eva. Segundo a Polícia Militar, Cleidson tinha envolvimento com drogas, o que é contestado pela mãe dele. “Não tem nada a ver esse negócio de ele ser usuário de drogas ou mexer com o tráfico. Uma vez a polícia esteve aqui em casa falando que ele era traficante, mas ele não era. Começaram a perseguir Cleidson desde que ele testemunhou nesse assassinato. A polícia tirava retrato do meu filho e chegaram a jogar uma droga aqui no portão da minha casa, mas bateu no ferro e voltou, pois Deus cuida de mim. Chegaram a prender meu menino, mas o delegado o soltou, pois não tinha como provar que ele estava envolvido com crimes”, disse a mãe de “Cabeça”, que ainda completou: “Depois de Cleidson ser assassinado a polícia veio aqui me apertando, pois mataram um sobrinho meu que era envolvido com o tráfico há nove meses. Falaram que meu filho tinha ficado com a maconha e a cocaína do meu sobrinho, que morreu aqui na minha porta, mas eu nunca aceitei isso na minha casa”.

Conforme Eva, Cleidson chegou a freqüentar a Apae de Ipatinga. “Meu filho nunca mexeu com drogas e todo mundo aqui no Canaãzinho sabe disso. A justiça da terra nada pode fazer e eu entreguei essa pessoa que deu tiros em Cleidson nas mãos de Deus, pois na bíblia fala que a vingança vem de Deus”, finalizou Eva. 

Tiros
“Cabeça” recebeu tiros no ombro direito. Populares disseram que os autores dos disparos estavam em uma motocicleta. O perito Luís Carlos, da Polícia Civil, realizou os trabalhos de praxe no local do crime e recolheu um par de chinelos. O telefone celular de Cleidson foi apreendido e entregue na 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil (1ª DRPC). 

Garito 
Em relação ao assassinato de Ricardo Garito, Victor Emmanuel teria sido o autor dos disparos, enquanto o outro policial foi o mandante, pois estava indignado com o fato de o comerciante ter se envolvido com sua ex-mulher.

Quando foi executado com três tiros na cabeça e um no pescoço, Ricardo Garito tinha uma boa situação financeira. Muito querido no Canaãzinho, ele – que havia chegado da Inglaterra há cinco meses – gostava de pagode e era “mulherengo”, segundo disseram pessoas que moram no bairro.



Fonte: JVA Online

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