Médicos entram em greve para pressionar planos de saúde

Em meio à crise do setor de saúde que coloca em xeque a qualidade e a capacidade de atendimento aos usuários do sistema particular, planos e médicos se preparam para outra queda de braço. Nessa quarta-feira, em mais um dia de protestos, os profissionais vão suspender o atendimento aos planos, reeditando a paralisação nacional de 7 de abril. A medida vale para os convênios que não negociaram reajuste no valor das consultas. Em Minas, vai atingir usuários de todas as operadoras e cooperativas médicas, sem exceção. Segundo as entidades que representam os médicos, o piso pleiteado, de R$ 60 por consulta, não foi alcançado no estado, e assim a expectativa é de que pelo menos 90 mil usuários em Minas tenham de adiar a ida ao consultório, ou recorrer ao congestionado atendimento das urgências. 

Os profissionais decidiram radicalizar o movimento e não aceitam menos que o valor estabelecido como mínimo pela Associação Médica Brasileira (AMB). No fogo cruzado fica o consumidor. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula o setor, informa que a operadora deve garantir o atendimento, mas não é o que tem ocorrido. 



A tensão na saúde vem se agravando. Segundo a ANS, existem cerca de 30 mil processos administrativos contra as operadoras. Os procedimentos foram iniciados com denúncias de clientes sobre procedimentos negados. Apesar de os reajustes às mensalidades serem anuais e acima da inflação oficial do país, e o setor experimentar crescimento recorde, usuários chegam a comparar o serviço particular ao atendimento público. A espera nas urgências de hospitais pode superar três horas e a marcação de consultas superar três meses de espera. Levantamento da Instituo Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também mostrou que o tempo de espera para ir ao médico pode chegar a seis meses.

"Os planos de saúde se tornaram o SUS particular", comenta a usuária do sistema e nutricionista Lavinne Sousa. Segundo ela, sempre que precisa levar as crianças ao hospital, é difícil esperar menos de três horas. "Já a marcação de consulta pode demorar três meses", comenta ela, que já teve de esperar para ir à ginecologista. O tempo foi ainda maior para o dermatologista. Apesar de considerar que o movimento dos médicos reflete nos usuários, ela concorda com o protesto. "Pagamos caro. E o valor que os médicos recebem é baixo pelo trabalho que oferecem."

Em Belo Horizonte estima-se que a carência do setor atinja 1,5 mil leitos. Já nos consultórios o déficit é sentido pelo usuário quando liga para marcar consultas. "Existem dois movimentos ocorrendo. Os médicos estão abandonando os consultórios ou se descredenciando e preferindo atender particular", diz o presidente eleito da Associação Médica de Minas Gerais, Lincoln Lopes Ferreira. Segundo ele, a expectativa é de 80% de adesão ao movimento de amanhã. "O valor da consulta não cobre os custos", justifica.
O diretor de saúde suplementar da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Márcio Bichara, informa que houve movimento de algumas operadoras para reajustar os honorários médicos, mas nenhuma atingiu o piso. Outras nem mesmo negociaram. "Há 10 anos os honorários representavam 40% dos custos das operadoras, hoje representam 18%." Ele também apontou que o número de usuários vem crescendo, ao contrário da capacidade de atendimento. "Ampliar a rede significa crescer o custo para as empresas."    


Fonte: UAI

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