Dos 82 mil mineiros que ganham a vida fora do Brasil, 4.293 emigraram de Ipatinga. A cidade ocupa 15° lugar no ranking da emigração no país
A psicóloga Patrícia Prudêncio Campos, 36, não vê a irmã, Alessandra (detalhe), há sete anos: “O mais difícil é a saudade” |
IPATINGA – A divulgação dos dados do Censo realizado no ano passado em relação à emigração no Brasil só confirmou aquilo que já era de se imaginar: existem muitos mineiros ganhando a vida no exterior. O estado fica em segundo lugar no ranking nacional, perdendo apenas para São Paulo, sendo que atualmente mais de 82 mil mineiros residem fora do país. Sobrália, São Geraldo da Piedade e Fernandes Tourinho, todas situadas na região Leste do estado e vizinhas de Governador Valadares (8º lugar no ranking, com 7.560 emigrantes), são as cidades brasileiras com maior proporção de emigrantes, conforme o instituto.
Foi possível chegar a esse resultado porque, pela primeira vez, o Censo incluiu no questionário perguntas sobre os brasileiros que vivem em outros países. Ainda segundo o IBGE, em São Geraldo da Piedade a proporção de emigrantes é de 67 por 1.000 habitantes. Em Fernandes Tourinho, a cada grupo de 1.000 habitantes, 64 escolheram viver fora do país.
A cidade de Ipatinga também se destaca nesse ranking, ocupando a 15ª posição. Os Estados Unidos são o principal destino de ipatinguenses que vão morar no exterior (43,5%), seguido por Portugal (28,2%) e Itália (10%). A pesquisa apontou emigrantes ipatinguenses morando ainda nos seguintes países: África do Sul, Angola, Canadá, México, Argentina, Bolívia, Chile, Venezuela, China, Japão, Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Irlanda, Noruega, Reino Unido, Suécia, Suíça, Austrália e Nova Zelândia.
Conforme o IBGE, o número total de emigrantes não é considerado exato, porque há a possibilidade famílias inteiras terem saído do país. Outro fator que impede a contagem é a morte de emigrantes que permaneceram no Brasil. O Ministério das Relações Exteriores estima que haja entre 2 milhões a 3,7 milhões brasileiros morando fora. Para a Organização Internacional para as Migrações – OIM (International Organization for Migration), o número seria entre 1 milhão a 3 milhões. Para o IBGE, o número é bem menor: 491.645 brasileiros espalhados em 193 países do mundo em 2010.
Saudade da irmã
A psicóloga Patrícia Prudêncio Campos, de 36 anos, não vê a irmã mais velha, Alessandra, há sete anos. Moradora do Bairro Caravelas, ela conta que a saudade é grande, mas fica menor graças à internet. “A Alessandra foi para os Estados Unidos há sete anos e desde então nunca mais veio para Ipatinga. Às vezes ela sinaliza que pretende voltar para casa, morar aqui... Outras vezes desconversa. Mas a gente entende que ela está lá porque quer melhorar de vida, conquistar a sonhada estabilidade financeira. A vida nos Estados Unidos não é fácil, lá ela trabalha como diarista e também numa rede de fast-food, mas tem muitos amigos e está feliz, e é isso que importa”, disse.
Não é a primeira vez que a psicóloga sofre com saudade de um parente que foi ganhar a vida no exterior. “Meu outro irmão, o Fabrício, morou no Canadá por um tempo e voltou em 2009, para resolver um problema relativo à sua documentação. Acabou que ele não quis retornar para a América do Norte. Atualmente ele mora em Salvador. E a saudade também é grande”, comentou.
Nova conjuntura
Gilsandro Andrade, 37 anos, mora atualmente no Bairro Canaã, em Ipatinga. Ele é um dos tantos emigrantes que um dia foram para os Estados Unidos e posteriormente voltaram para casa. “Entrei nos Estados Unidos no dia 6 de abril de 1996 e fiquei lá até junho de 2010. Quando eu fui para o exterior, eu não tinha família, fiz minha família por lá. A minha mulher, Solange, chegou nos EUA em 1997, lá nós casamos e deu certo... Agora nós voltamos para Ipatinga, e trouxemos um membro a mais para a nossa família, o nosso filho: Arthur Gustavo Magalhães”, falou.
Questionado sobre o que o motivou a ir para os Estados Unidos, Gilsandro é direto: “O motivo é o mesmo de todos que vão: crescer e ser independente financeiramente. A gente quer ganhar o mundo. Quando se fala em América, pensa em dólar e independência financeira... Conseguir um carro, uma casa própria, mudar de vida. Coisas que aqui no Brasil não é fácil para se conquistar com tanta rapidez”, afirmou.
Ainda de acordo com Gilsandro, o que motivou ele e a mulher a voltarem para o Brasil foi a saudade da família e dos amigos. “Fomos muito felizes por lá, inclusive pelo fato de termos construído a nossa família. Contudo, resolvemos voltar para recuperar a convivência com nossos parentes, com nossos amigos, a farra que existe aqui, o calor humano, que por lá é bem escasso, existe, mas não é o que temos aqui”, recordou, dizendo ainda que um dia, caso seja necessário, ele pode voltar a viver fora do país.
“Se precisar ir de novo, eu vou! Hoje lá não está grandes coisas, economia ruim, muito desemprego... Mas acredito que um dia vai voltar a ser como era antes. Durante o tempo que a gente estava lá, fizemos muitas amizades e conquistamos muitos sonhos. Foi muito bom”, reconheceu.
Fonte: JVA Online
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