Moradores e polícia entram em confronto no Aglomerado da Serra

PM ocupa Aglomerado da Serra e reprime protesto com tiros e bombas. Os moradores revidaram com pedradas


“Situação de guerra civil”. Assim uma moradora do bairro Serra, região Centro-Sul de Belo Horizonte, descreve a situação no aglomerado da região, na noite deste domingo (20), em confronto entre a PM e moradores que protestam contra a morte de duas pessoas, baleadas durante confronto na madrugada desse sábado.

Segundo a moradora, que não quis se identificar, do alto de sua casa, ela conseguiu visualizar um grande conflito entre moradores e Polícia Militar na praça Cardoso, na Vila Cafezal. “São muitos tiros, barulho de bomba estourando, muito gritos de moradores chamando policiais de assassinos, pedindo justiça, a situação é mesmo de uma guerra. Até a rede elétrica foi afetada com piques de energia”, relata a moradora.

De acordo com o locutor da Rádio Favela, na Serra, Mizael Avelino, que acompanhou ao vivo a situação desde o início do confronto, que começou por volta das 19h da noite deste domingo, moradores informaram que várias pessoas foram atingidas por balas de borracha. “Eles faziam uma manifestação pacífica quando a PM chegou e começou o conflito, rapidamente se tornando um clima de guerra. Temos informações de vários feridos, entre eles uma criança de cinco anos e um homem, que foi atingida na boca, na Vila Nossa Senhora Santana”, relata.

Ainda segundo o locutor, o clima geral dos moradores é de muito medo. “A favela está toca cercada. Tem pelo menos umas 20 viaturas aqui. Tá todo mundo correndo, fugindo, se escondendo com medo. Há também os que insistem em continuar a manifestação. Mais um ônibus, por exemplo, foi queimado agora a noite. Há presos também”, relata.

De acordo com um morador, um chaveiro de 22 anos, pai de uma criança de cinco anos que foi atingida por estilhaços de tiros na perna, no momento em que começou o confronto, na praça Cardoso, havia muitas crianças no local. Segundo ele, ao verem os policiais se aproximarem, moradores começaram a jogar pedras e pedaços de pau nos policiais, além de xingarem muito. “Estava cheio de crianças brincando. Eu gritei para a polícia que estava cheio de crianças, mas eles não quiserem nem saber”, disse o chaveiro.

Segundo ele, com a má recepção dos moradores, a polícia começou a atirar balas de borracha contra os manifestantes que insistiam em contra-atacar e a xingar os policiais. Além da menina atingida, um outro homem também foi atingido na praça. “Minha filha estava achando que ia morrer, como se a bala fosse de verdade. Ela estava com muito medor”.

Mesmo ferida, pela criança estar muito assustada, o pai preferiu levar a filha para casa, onde lavou a ferida com água quente e em seguida fez um curativo.

Bombeiros também estiveram no local combatendo as chamas no veículo da linha 103, que foi queimado na rua Serenata, na favela do Cafezal, afetando também a rede elétrica.

A reportagem de O Tempo Online tentou entrar em contato diversas vezes com a assessoria de imprensa da PM e com o 22º Batalhão, que é o responsável pela operação no bairro, mas ninguém foi encontrado para falar sobre o assunto. A operação deve durar até a madrugada desta segunda-feira.

Entenda o caso
Na madrugada desse sábado, uma incursão policial contra o tráfico de drogas na Vila Marçola, Aglomerado da Serra, terminou com dois mortos, um adolescente de 17 anos e um homem de 31 anos, que são filho e irmão de um policial militar. Houve um tiroteio entre policiais e suspeitos, deixando um policial ferido e dois suspeitos baleados, que foram socorridos, mas morreram antes mesmo de serem atendidos.

De acordo com a Polícia Militar, uma equipe do Batalhão Rotam fazia uma operação de rotina no aglomerado quando deparam com um grupo de mais 20 pessoas armadas e 12 delas com fardas da Polícia Militar e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate).

Ainda segundo a PM, ao ver os policiais, os suspeitos abriram fogo e a equipe militar revidou. Um policial foi atingido no peito, mas estava com o colete a prova de balas.

Após as duas mortes, moradores se revoltaram afirmando que os dois eram trabalhadores e não tinham nada a ver com o tráfico na região, acusando os policiais de assassinos. Eles queimaram dois ônibus na manhã de sábado em protesto e desde então o clima ficou tenso entre polícia e comunidade.

font: O tempo

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