Briga societária pela Usiminas aumenta pressão para venda da siderúrgica

Disputa velada em Ipatinga já mobiliza governo mineiro, indústria e trabalhador
Embrião do Vale do Aço, usina Intendente Câmara passou a fornecedora do setor petroquímico
15-09-2011 10:43
O que está acontecendo com a Usiminas? A pergunta pode vir tanto de um operário para o seu colega de trabalho quanto da ligação de um investidor pessoa física para o seu corretor de valores. O fato é que a siderúrgica – fundada há 55 anos, produtora de mais de 7 milhões de toneladas por ano, empregadora de cerca de 30 mil trabalhadores – está no centro de uma disputa velada. Estaria no alvo da cobiça das também gigantes Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do Rio de Janeiro, e da Gerdau, de Porto Alegre. Na briga de titãs, a especulação é que a CSN teria feito oferta para assumir o controle da Usiminas numa negociação que envolve 26% das ações da companhia mineira, incluindo papéis da Votorantim e da Camargo Corrêa.

As duas siderúrgicas produzem aços planos, usados na fabricação de veículos. A união das duas criaria o maior complexo brasileiro neste nicho. Outra especulação, essa não tão notória, é que o xeque-mate da CSN de Benjamin Steinbruch sobre a Usiminas de Wilson Brumer tem um nome: cimento. É que a CSN vende coprodutos industriais, como a escória de alto forno, para as cimenteiras Votorantim e Camargo Corrêa e, segundo fonte do setor, Steinbruch estaria “ameaçando” de suspender o 
fornecimento da matéria-prima para a produção de cimento e argamassa, caso as empresas não aceitem negociar suas participações na Usiminas.


A CSN já emitiu quatro comunicados oficiais só neste ano sobre compras de ações ordinárias e preferenciais no chamado mercado secundário de ações (quando investidores negociam entre si). No primeiro anúncio, em 27 de janeiro, detinha 5,03% das ações ordinárias (ON) da Usiminas e 4,99% de preferenciais (PN). Na última divulgação, em 19 de agosto, o volume de ONs saltou para 11,29% e o de PNs, 15,15%. Levando em consideração as ações ordinárias e preferenciais, a CSN já é a maior acionista, com uma fatia de 13,23% do total dos papéis (veja quadro).

Contudo, o grupo Nippon detém 29,08% das ordinárias, ações com direito de voto em assembleias. Nesse caso, a atual participação da CSN é de 11,29%; da Votorantim, 12,98%; e da Camargo Corrêa, também 12,98%. Vale destacar que a Nippon, maior siderúrgica do Japão, é o fiel da balança, já que na eventual possibilidade de Votorantim e Camargo Corrêa venderem suas participações, poderia exercer direito de preferência de compra. Na começo da noite de ontem, o mercado já cogitava que a Nippon está usando desse poder para bloquear a oferta da CSN, que seria de R$ 5 bilhões.

“O mercado enxerga uma Usiminas à venda em razão das mudanças no quadro societário, entre outros motivos”, afirma Daniella Maia, analista de siderurgia da Ativa Corretora. Ela destaca que “a CSN tem maior capacidade financeira para suportar a compra da Usiminas, porém os benefícios de integração com a Gerdau vão além de simples sinergias de custo”. O mercado estima que a Usiminas tem mais de R$ 40 bilhões em caixa para investimentos. Especula-se, ainda, sobre a aquisição da siderúrgica mineira pela Gerdau, já que a fusão criaria o maior conglomerado de aços planos e longos. “Não esperamos ver nenhum movimento até abril de 2012”, pondera Maia. O governo de Minas Gerais teria entrado na defesa da Gerdau, que tem o seu maior complexo, a Açominas, em Ouro Branco, Região Central do estado. Portanto, seriam grandes as chances de as instalações da Usiminas se manterem como são hoje.

Minas quer manter sede

Dentro da Usiminas, no chão de fábrica, a torcida é para que a Gerdau, em vez da CSN, seja a compradora. Alguns funcionários acreditam que a Gerdau, por produzir aços longos, seria complementar à Usiminas, destaque em aços planos. Caso contrário, a sinergia com a CSN, que atua no mesmo campo, poderia significar demissões. O presidente de Política Econômica da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Gonçalves Fernandes, defende “uma posição focada na proteção do capital, dos trabalhadores, e na garantia da perpetuação da indústria de sucesso que a Usiminas construiu em Minas Gerais”. Para ele, a compra pela CSN pode significar risco de mudança da sede da cúpula de decisão.

“A Gerdau, entretanto, é mais palatável para a Nippon”, diz o industrial. Ainda segundo Fernandes, mesmo que a CSN não alcance o controle, incomoda de qualquer forma. “Ampliando a sua participação, teria direito de assento no Conselho de Administração. Se isso acontecer, passa a conhecer as decisões estratégicas do concorrente. São coisas passíveis, mas que a economia de Minas não gostaria de ver”, afirma.

Embora a secretária de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais prefira não dar depoimento sobre o assunto, fonte ligada ao Estado afirma que o Executivo defende o poderio da Usiminas. O governo federal está atento. Na segunda-feira passada, a Secretaria de Direito Econômico (SDE), vinculada ao Ministério da Justiça, enviou notificações que pedem informações para Usiminas e CSN. As notificações podem acarretar em obrigação das empresas emitirem comunicado à Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE), vinculada à Fazenda, e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Uma vez que os produtos da Gerdau são diferentes dos produzidos pela Usiminas, esse processo poderia ser descartado.
A CSN informou, por meio de nota, que “não tem fundamento a notícia de que existe e se encontra pendente de resposta” proposta feita às Camargo Corrêa e Votorantim. Avisou ainda que “está atenta à necessidade de manter o mercado devidamente informado na eventualidade de haver desdobramentos relativos a tais aquisições”. Usiminas já encaminhou comunicado ao mercado, esclarecendo que desconhece qualquer oferta. Camargo Corrêa e Votorantim disseram que não comentam rumores, assim como a Gerdau. 



Fonte:UAI

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