Garota de 14 anos que sofreu abuso e foi torturada implora pela prisão da mãe

Reação. No hospital de Juiz de Fora, menina faz e colore desenhos; desnutrida, ela tem recuperação lenta

Juiz de Fora. Nem brinquedos, nem comida. Muito menos saudade de casa. O maior pedido feito pela menina de 14 anos, mantida sob tortura, é que sua mãe - principal responsável pelas agressões que ela sofreu - seja presa. O relato foi feito à reportagem de O TEMPO pelas vizinhas da família. As mulheres tornaram-se acompanhantes da adolescente desde a última segunda-feira, quando a menina foi internada no Hospital de Pronto-Socorro de Juiz de Fora, na Zona da Mata, num quarto com acesso restrito. "Ela implora que prendam a mãe. Tem um medo enorme", contou Maria Antônia.

Cinco pessoas se revezam no hospital ao lado da adolescente, que continua com o corpo repleto de bolhas, feridas, hematomas e queimaduras provocadas por cigarro. A equipe médica tenta, com medicamentos, reverter o quadro inicial de desidratação e desnutrição. Bastante magra, a menor chegou ao hospital com apenas 25 kg - peso aproximado de uma criança entre 5 e 8 anos. Também apresenta lesão frontal e uma clavícula quebrada.

"Agora ela começou a conversar, está colorindo desenhos e lendo. Adora ver televisão", informou a vizinha.

A saúde debilitada é fruto de um histórico de agressões que a Polícia Civil ainda procura desvendar. Por enquanto, a delegada Dolores Tambasco, que apura o caso de tortura, sabe apenas que, durante cerca de um mês, a menina foi submetida a intensas sessões de violência promovidas pela própria mãe, Michelle da Penha, 37, com a ajuda do padrasto, Magno Luiz Carrara, 18. 

A menor chegou a ser amarrada num galinheiro e ficar nua debaixo de chuva e sol forte. Segundo a polícia, Michelle e Magno também obrigavam a criança a praticar sexo oral em outros homens e, até mesmo, nos próprios irmãos menores. "Foi algo brutal e indescritível, com intenção de matar a menina", contou a delegada, que pretende fazer com que o casal responda por tentativa de homicídio.

Assim que souberam que eram procurados, o casal fugiu da cidade de Coronel Pacheco, vizinha de Juiz de Fora. Com eles, levaram outros dois filhos de Michelle - um de 10 anos e outro de 12. De mudança para o município de Chácara, a poucos quilômetros, a família foi pega de surpresa após um caminhoneiro do município de Filgueiras, que fez o transporte, relatar o que viu ao Conselho Tutelar da cidade. 

Ele disse que a menina estava bastante magra e com o corpo cheio de feridas, o que alertou também os agentes de saúde. Eles foram ao local e constataram os maus-tratos. Com medo, antes de fugir, a mãe chegou a visitar a filha no hospital e fez ameaças para que a ela não contasse toda a história de tortura. A reportagem tentou falar com o caminhoneiro que fez papel de herói, mas ele se negou a conversar. 

A jovem já teria sido vítima de maus-tratos pela mãe em outras duas ocasiões, segundo depoimentos de familiares prestados à delegada. "Ela tentou matar a menina quando ela tinha apenas um mês de vida", informou a policial civil. Um mês atrás, ocorreu outra tentativa. Segundo relato de um tio da menina, Michelle teria tentado afogar a adolescente num lago próximo à casa onde estavam.

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